Cultura e Lazer

Descobrindo os tesouros do Lago Maggiore

O Lago Maggiore, o segundo maior da Itália depois do Lago de Garda, é também um dos mais ricos em história e beleza de toda a Europa. Localizado no norte do país, ele se estende entre o Piemonte e a Lombardia e toca ainda a Suíça, formando um cenário onde a água azul se mistura a vilarejos históricos, castelos, jardins floridos e montanhas que emolduram o horizonte.

Paisagens deslumbrantes aguardam pelos visitantes nessa região | Foto: Niccolò Fusaro

A cidade de Stresa, conhecida como a “pérola” do Lago Maggiore, é o ponto de partida ideal para explorar o território. Situada na margem piemontesa, oferece um lungolago elegante, repleto de hotéis majestosos em estilo Liberty. Suas fachadas exibem varandas floridas, gramados impecáveis e detalhes dourados que brilham ao sol como se fossem ouro. Caminhar por essa orla é uma experiência que mistura elegância e tranquilidade. Foi impossível não se encantar com a vista para as ilhas, que, do outro lado da água, pareciam nos observar com um olhar convidativo.

LEIA TAMBÉM: La Bella Italia: a cidade de onde partiram muitos imigrantes que chegaram no sul do Brasil

Publicidade

De Stresa partem os barcos que levam a alguns dos maiores tesouros do Lago Maggiore: Le Isole Borromee e a Ilha dos Pescadores. As Ilhas Borromee ainda pertencem a uma das famílias mais antigas e influentes da Itália, cujas raízes remontam ao século XV. Entre seus nomes mais célebres estão San Carlo Borromeo, cardeal e arcebispo de Milão, figura central da Reforma Católica após o Concílio de Trento; e Federico III Borromeo, também cardeal e arcebispo de Milão, primo de San Carlo e imortalizado por Alessandro Manzoni no clássico I Promessi Sposi. Mais recentemente, o nome Borromeo voltou a ganhar destaque nas mídias com Beatrice Borromeo, jornalista e esposa de Pierre Casiraghi, filho da princesa Carolina de Mônaco.

Já a Ilha dos Pescadores é a única entre as “Isole Borromee” que não pertence à família Borromeo. Carrega esse nome devido à tradição na pesca e, ainda hoje, é habitada por famílias de pescadores que mantêm essa herança viva.

LEIA TAMBÉM: Minha jornada com o italiano 

Publicidade

Em um único dia é possível visitar as três ilhas principais, admirar a vista panorâmica e se deixar levar por um cenário mágico. O sistema de navegação local é muito bem organizado, cíclico e com diversos horários pré-definidos, o que facilita para o turista se organizar durante o passeio. As ilhas são pequenas – permanecemos em torno de uma hora e meia em cada uma – mas cada canto traz uma surpresa.

Essa viagem me ativou um senso de exploradora. Diferente de um “objetivo a cumprir, bater pontos turísticos, visitar o máximo de lugares possíveis”, que muitas vezes uma viagem pode se tornar, as Ilhas Borromee te convidam a despertar um olhar curioso e meditativo, onde é possível esquecer o “mundo em terra firme”.

A primeira na qual desembarcamos foi a Isola Madre. Assim que chegamos, já me deparei com árvores grandes, de folhas escuras, e uma floresta subtropical. Um pouco mais à frente, a vegetação se abriu para lindos campos verdes e floridos – são mais de 150 espécies diferentes – e… faisões! Sim, as ilhas são casa não somente de plantas exóticas, mas também de pavões e faisões que correm livres pelos jardins e não se importam em ser o centro das atenções para os turistas. Parecem até fazer pose para a foto!

Publicidade

LEIA TAMBÉM: La Bella Italia: raízes culturais e históricas que tocam o presente com ITALEA

A segunda parada foi a Ilha dos Pescadores, com suas pequenas vias a serem descobertas, negócios locais e restaurantes. Nós optamos por estender a nossa toalha às margens do lago, com vista para o Lago Maggiore, e compartilhar um momento de felicidade genuína e simples enquanto mangiavamo il nostro panino (enquanto comíamos o nosso sanduíche).

Por fim, chegamos à Isola Bella. Logo na entrada do Palazzo Borromeo, ergue-se o cipreste do Kashmir mais antigo da Europa – um gigante de 25 metros de altura, tronco de 4 metros de diâmetro e folhas verde-azuladas. Em 2026, uma forte ventania quase o derrubou, mas, graças ao trabalho conjunto de engenheiros e botânicos, com o auxílio de helicópteros, guindastes e 18 tirantes de metal, ele foi salvo.

Publicidade

Hoje permanece majestoso, recebendo os visitantes como um guardião silencioso do palácio, onde a família ainda reside, embora parte esteja aberta à visitação. No interior, é possível conhecer a coleção privada de arte e o Teatro delle Marionette – uma das maiores e mais bem preservadas coleções de equipamentos de palco, fantoches e roteiros do mundo – projetado por Alessandro Sanquirico, célebre cenógrafo do Teatro alla Scala de Milão, para receber o rei e a rainha da Sardenha.

LEIA TAMBÉM: A revolução do gelato de Turim: o famoso “Pinguino”

Entre obras de arte, memórias familiares e cenários teatrais, esses salões também testemunharam histórias vividas por hóspedes ilustres como Napoleão Bonaparte, que passou dois dias na ilha, e Lady Diana, que chegou a dançar ali. O local foi ainda palco de momentos políticos decisivos, como a Conferência de Stresa, realizada entre 11 e 14 de abril de 1935, que reuniu o ministro das Relações Exteriores da França, Pierre Laval, o primeiro-ministro britânico, Ramsay MacDonald, e o chefe do governo italiano, Benito Mussolini.

Publicidade

O objetivo do encontro era garantir que a Áustria permanecesse um país independente e impedir os avanços da Alemanha. Porém, não foi cumprido, e pouco tempo depois ocorreu a aliança entre Itália e Alemanha na Segunda Guerra Mundial.

E para terminar a visita à Isola Bella com chave de ouro, do lado externo do palácio revelam-se os jardins onde, séculos atrás, nobres se divertiam com seus bailes. O Teatro Massimo, unindo natureza e arte de forma perfeitamente harmônica, parece ter sido esculpido pela própria deusa do amor e da beleza, Afrodite. Entre estátuas e flores, no topo se ergue o unicórnio, símbolo da família Borromeo.

Subindo suas escadarias, chega-se ao terraço, de onde a vista para o Lago Maggiore, o palácio e os jardins forma um cenário de tirar o fôlego. Completamente isolado pela água, pela natureza e pela beleza, é fácil acreditar que se chegou ao paraíso enquanto se admira o horizonte azul e verde.

A viagem terminou no seu ponto mais alto, como um final de um grande espetáculo – e eu, como exploradora das Ilhas Borromeo, ainda que por um dia, retornei com a sensação de ter encontrado meu tesouro.

LEIA MAIS DE CULTURA E LAZER

QUER RECEBER NOTÍCIAS DE SANTA CRUZ DO SUL E REGIÃO NO SEU CELULAR? ENTRE NO NOSSO NOVO CANAL DO WHATSAPP CLICANDO AQUI 📲. AINDA NÃO É ASSINANTE GAZETA? CLIQUE AQUI E FAÇA AGORA!

Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

Share
Published by
Carina Weber

This website uses cookies.