Quem passava pelos corredores do Colégio Marista São Luís durante esta semana pensava estar em um conservatório de música. Desde domingo, 8, em cada sala, professores transmitiam seus conhecimentos a estudantes de canto lírico, regência, violino, violoncelo, trompa e outros instrumentos que compõem uma orquestra. Pela primeira vez, Santa Cruz sediou um festival de música erudita, que foi chamado de Musikfest. A iniciativa reuniu nas dependências da instituição de ensino, uma parceira do evento, cerca de cem alunos de música clássica e integrantes de orquestras do Estado e até de outros países, como a Argentina, além de docentes.
Apesar de sair do papel apenas neste início de ano, a possibilidade de realizar um festival de música erudita em Santa Cruz vem sendo discutida há mais de um ano. A ideia era proporcionar um ambiente de aprendizado aos membros da Santa Cruz Filarmonia, criada em janeiro de 2015, conforme conta um dos organizadores do Musikfest, Otávio Haguiuda. “A Orquestra precisava crescer tecnicamente. Queríamos trazer professores para passar conhecimento aos integrantes. Então por que não abrir para membros de outras orquestras também?”, comentou Haguiuda.
Com muita vontade e apenas dois meses para de fato tirar a ideia do papel, membros da Orquestra Santa Cruz Filarmonia, cuja regente é Sandra Mohr, conquistaram apoiadores e transformaram a cidade na capital da música erudita. Pelo menos por esta semana. E agora, prestes a terminar, a iniciativa já pode ser considerada um sucesso. “Encontramos pessoas para ministrar as oficinas afinadas com a nossa filosofia, que é de priorizar a música”, comentou o diretor artístico do evento, Cláudio Ribeiro. “Os alunos estão muito satisfeitos. Como ainda não é um dos grandes festivais, os estudantes têm um contato mais próximo com os professores”, completou Haguiuda.
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Devido ao sucesso do 1º Musikfest, os organizadores já pensam na próxima edição. A ideia é, segundo Haguiuda, encontrar mais apoiadores, ampliar o número de cursos e tentar apoio financeiro através de leis de incentivo. “Muitos alunos gostariam de vir, mas não puderam por falta de dinheiro. Nossa ideia é disponibilizar bolsas de estudos para que mais pessoas possam comparecer”, contou Haguiuda.
Quem quiser conferir o resultado do trabalho realizado pelos participantes do Musikfest pode assistir ao Concerto de Encerramento, nesta sexta-feira, 13, no auditório do Marista São Luís, a partir das 20h30. O valor do ingresso é R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia). Serão apresentadas peças do período clássico, barroco e haverá ainda um grand finale: coro e orquestra do festival se apresentam juntos.
Assista um trecho do ensaio:
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Talento de sobra
Camila Pereira, de apenas 16 anos, e membro da Orquestra de Tupanciretã. A menina, que toca trompa desde os 11 anos, não disfarçava a felicidade de participar do evento em Santa Cruz. Apesar de não ter parte do braço direito, o talento da menina ao tocar um instrumento tão complexo, como considerou o próprio diretor artístico do evento, chamou atenção dos integrantes do festival. “Assim como ela, temos muitos talentos escondidos por aí e que precisam ser descobertos”, explicou Ribeiro.
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A trompista conta que conheceu um maestro que tocava o instrumento e que foi ele quem a convidou a aprender. “Quando eu era apenas aluna, ficava olhando os membros da orquestra e sonhando com o dia que tocaria com eles”, relembra a menina que sonha alto. Para o futuro, ela planeja fazer vestibular para música e tocar em uma das grandes orquestras do Brasil e, quem sabe, até do mundo. “Se eu não passar (no vestibular), eu faço de novo. Não me imagino fazendo outra coisa”, finaliza.
O encantador de búfalos
Um dos membros da Orquestra Santa Cruz Filarmonia, Antonio Carlos Trierweiler, é um entusiasta do Musikfest. “É um momento de plantarmos a semente da música erudita. É muito bom vermos todos compartilhando seus conhecimentos”, explica. Ele, aliás, tem um dom incomum. O violinista, que cria búfalos em sua propriedade, em General Câmara, usa o instrumento para chamar os animais.
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O violinista conta que, em 2003, quando tocava o instrumento há apenas três anos e já fazia parte da Orquestra de Concertos de Lajeado, estava ensaiando o repertório na propriedade. Quando começou a tocar Amazing Grace, de Chris Tomlin, percebeu um fato interessante: os animais vinham em sua direção. Foi assim que ele desenvolveu seu método, que utiliza até hoje. “Quando está chovendo e eu não quero molhar o violino, eu assobio. Funciona também, mas não tem o mesmo alcance”, conta ele.
A história de Antônio com a música é mais antiga e é compartilhada por toda a família. O filho também toca violino e é o membro mais jovem da Orquestra Snata Cruz Filarmonia. Já a esposa, canta. “Desde novo gosto de música. Já toquei violão, piano, mas como já precisei fazer cirurgias no braço o dedilhado me causava dores”, relembra. E foi em um momento em que presenteou uma velha amiga e professora de música com a apresentação de um violinista, percebeu que poderia apostar no instrumento. “Eu já havia considerado tocar violino, mas um amigo que treinava desde criança me falou que eu estava velho para aprender”, revela. “De repente me dei conta que, com o braço que me causa dores eu conduziria o arco e, assim, conseguiria tocar”, explica ele, que começou a praticar o instrumento desde o ano 2000.
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