É uma ilusão dos sentidos, da percepção, ou o tempo realmente parece escorrer mais rápido com a passagem dos anos? Ou seria só uma sensação subjetiva, como a que temos quando voltamos de viagem e percebemos o retorno com duração mais curta que a ida?
Existem hipóteses e teorias de sobra sobre essas coisas. Há quem diga que até a hiperconectividade, com sua inundação de vídeos acelerados e informações online repassadas no modo “2x”, tenha algo a ver. Não sei. Mas, particularmente, a sensação é de uma urgência crescente, no sentido de tentar “segurar” o tempo e fazê-lo render mais, durar muito mais.
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No entanto, esse é um fluxo que não pode ser contido. Ou poderia? Hans Castorp, protagonista de A montanha mágica, romance do alemão Thomas Mann, pergunta-se: se o tempo está ligado à existência dos corpos no espaço e ao seu movimento, ele deixaria de avançar se não existisse movimento? Interromperia seu curso? Não chega a nenhuma conclusão.
Muitos anos após as inquietações de Castorp, um conto do argentino Adolfo Bioy Casares trouxe a surpreendente história de um homem que tentou – e quase conseguiu – paralisar o tempo. Chama-se “O perjúrio da neve” e faz parte da coletânea Histórias fantásticas.
Em uma fazenda interiorana, um homem cuja filha está desenganada, vítima de doença terminal, decide estabelecer uma rotina fixa: os empregados executam as mesmas tarefas e vivem nos limites da propriedade, porque ninguém pode sair nem entrar naquele lugar. “Todos os dias pareciam o mesmo dia. Era como se o tempo se detivesse todas as noites”, diz o narrador.
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É a forma como o pai tenta impedir – ou ao menos retardar – a morte da filha: impondo a todos “uma vida escrupulosamente repetida, para que em sua casa o tempo não passasse”. O que, de certa maneira, parece funcionar. Hans Castorp ficaria fascinado.
Histórias. Já no conto Gelo e fogo, do norte-americano Ray Bradbury, o problema é uma absurda, desnorteante falta de tempo: em um mundo fictício, as pessoas têm seu metabolismo tão acelerado que vivem apenas oito dias. Mal aprenderam a falar, já têm filhos. Terrível.
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E mesmo nessa situação, algumas tribos consomem sua energia guerreando com outras. Sim, para isso há tempo. “Mas por quê? A vida já não é bastante curta sem lutas, sem homicídios?”, espanta-se um personagem.
Nem com uma vida tão escassa conseguem priorizar o que importa. Mas, claro, isso é ficção.
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