Em tempos de Natal, certamente é sobre esse tema que devo escrever. Mas, logo me acorre a ideia de que a respeito do evento tudo ou quase tudo já foi dito ou escrito. Mensagens, cartões, ligações telefônicas, abraços virtuais, todos esses canais usaram à exaustão o que se pode ou deve expressar. O normal, porém, é que alguma coisa precisa ainda ser dita ou escrita, porque a festa é digna demais para dispensar ou apagar nossos sentimentos e nossas reflexões.
O Natal, antes uma celebração simples, humilde, intimista das famílias, hoje se transformou num grande espetáculo que, em alguns lugares, chega a durar três meses, ou até mais, apresentando shows esfuziantes em que, de vez em quando, até o Menino Jesus é convidado. Ele deve se assustar um pouco porque, afinal, nasceu num discreto e silencioso estábulo, cercado de animais, embora envolto em luzes angelicais e acariciado pelas doces mãos de Maria.
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Dezembro é o mais ensandecido mês do ano. Não ele em si, mas para dentro dele se canalizam todas as loucuras que somos capazes de criar ou imaginar. É só observar com um mínimo de atenção. O trânsito se multiplica por dez, cada motorista buscando chegar primeiro, mesmo ele não sabendo direito para onde ir e o que fazer. Ninguém ouse impedir a passagem do apressado cidadão de dezembro. Ele pode não acionar a buzina o ano inteiro, no entanto em dezembro ela precisa abrir caminho.
O comércio ferve em dezembro. É preciso reforçar o estoque e, para despachar o produto, torna-se imperativo contratar mais funcionários. Bom para eles, pena que por pouco tempo. Os clientes se agilizam porque em suas cabeças martela aquela ideia de que, se não se apressarem, não encontrarão mais o que planejaram adquirir. Para isso não acontecer, desde outubro são avisados com as primeiras luzinhas piscando nas vitrines. Comprar antes é conquistar um troféu que gera uma pequena paz em dezembro. E dívidas a perder de vista no feliz ano novo que se aproxima.
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Em dezembro, acontecem todas as comemorações de grupos dos quais fazemos ou fizemos parte em algum momento. Os formandos da faculdade, os colegas do tempo de escola, a turma do futebol, do tênis, do padel, da academia, da igreja, da pescaria e, claro, da festa mais esperada e comemorada do ano, a festa da firma. É necessário verdadeira ginástica no calendário para encaixar tantos momentos de felicidade. Até parece que essa modalidade de confraternização só cabe em dezembro.
Ainda que dezembro provoque tanta agitação, sempre há de sobrar um tempo para significativo recolhimento, para necessário e salutar balanço. Rever decisões, repesar valores, reafirmar afetos, permitir o convite à paz, à humilde e decisiva mensagem de Natal a todas as pessoas de boa vontade. Muito oportuna a leitura da breve crônica de Moacyr Scliar, “A noite em que os hotéis estavam cheios”. Todos os gerentes negaram pousada a Maria e José, porque humildes, maltrapilhos. Acabaram numa manjedoura. “Não demorou muito, apareceram os três Reis Magos, perguntando por um casal de forasteiros. E foi aí que o gerente começou a achar que talvez tivesse perdido os hóspedes mais importantes já chegados de Belém de Nazaré.”
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Como esta é minha última coluna do ano, agradeço a companhia de cada um de vocês e desejo um Natal pleno de sentido e luz e um novo ano com todas as felicidades possíveis.
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