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Dias de chuva, dias de sol

No momento em que escrevo são 10h52 da terça-feira passada. Depois de dias seguidos de chuva finalmente o sol brilha. Mas como moramos no Rio Grande do Sul, onde tudo envolve extremos, o dia seco veio acompanhado de uma onda inclemente de frio e vento gelado.

Do quinto andar em que trabalho vislumbro o rio Guaíba. Brinco com colegas de trabalho dizendo que, graças ao clima maluco, é possível surfar. A força do vento forma marolas que quase chegam a se transformar em ondas nas águas barrentas do que alguns chamam de “lago”.

O nível do Guaíba continua subindo, com promessa de estabilização dentro de dois dias. Os pobres moradores das ilhas do estuário porto-alegrense sofrem repetidamente com as cheias. É difícil encontrar soluções para o problema. Poucos ilhéus aceitam mudar de residência, o que é compreensível. Imagine, prezado leitor, ser obrigado a deixar a casa, o convívio com vizinhos, amigos e abandonar uma história de décadas.

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Ao mesmo tempo, o poder público encontra dificuldades para implementar medidas mitigadoras das consequências das enchentes. A maioria dos moradores reside praticamente em frente ao rio, cujo nível das águas se eleva rapidamente.

Bastaram alguns dias de chuva – nem tão forte, porém insistente – para que o pavor tomasse conta dos gaúchos na semana passada. No Vale do Taquari, onde a maioria dos 36 municípios foi duramente impactada por três grandes enchentes em sete meses (2023-2024), o trauma da tragédia é permanente.

No Vale do Rio Pardo e na Região Central do Estado, o volume d’água que caiu do céu surpreendeu. Em Porto Alegre alguns bairros tiveram ruas alagadas, casas atingidas e moradores expulsos com suas famílias. Não condeno aqueles que acham que nada foi feito desde a maior catástrofe climática do Rio Grande do Sul em maio do ano passado.

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Compreendo a postura de parte dos gestores públicos. A legislação é rigorosa no esforço para evitar abusos, desvios e mau uso do dinheiro dos contribuintes. Mas também seria ingênuo não admitir que houve indolência por alguns, uma demora inadmissível para elaborar projetos indispensáveis para acessar financiamentos oficiais.

A enchente de 2024 deixou marcas indeléveis em todos nós, com maior ou menor intensidade. Patrimônios de uma vida inteira foram dizimados. Familiares, vizinhos e amigos perderam tudo, inclusive pessoas próximas. O que se esperava era um mutirão para proteger a população mais vulnerável. Esquecendo interesses políticos (teremos eleições em 2026), objetivos pessoais e vaidades.

O comportamento geral deveria conter um mínimo de humanidade, empatia e solidariedade. Mas pelo andar da carruagem, é pedir demais para quem foi eleito para nos defender e lutar por melhores dias. 

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Gilberto Jasper

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