Já se passou quase um ano desde que escrevi, nesta coluna, sobre uma séria preocupação que nossa caçula, Ágatha, demonstrou no período da Quaresma de 2020.
– Pai? – chamou-me, na ocasião. – Será que o Coelho da Páscoa pega coronavírus?
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Pelo visto, ou o Coelho é imune ao vírus ou toma os devidos cuidados.
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Lembro que, na época, ainda estávamos nos acostumando com a ideia da quarentena e nutríamos a impressão de que a pandemia acabaria logo adiante. Nem nos passava pela cabeça a possibilidade de atravessar uma segunda Quaresma sob a ameaça da Covid – muito menos com índices muito piores de doentes e vítimas.
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Falando nisso, gostei do primeiro discurso do médico Marcelo Queiroga, o futuro novo ministro da Saúde. Em tempos de tanta divisão política e ideológica, inclusive no que toca ao combate à Covid, Queiroga adotou um tom conciliador. Ao mesmo tempo em que defendeu a manutenção da atividade econômica, corroborou o que diz a ciência e conclamou a população a fazer sua parte: apelou para o uso da máscara e para a atenção às regras de higiene e distanciamento. Deixou subentendido que uma coisa está vinculada a outra – ou seja, para que fábricas, lojas e restaurantes possam ficar abertos, a população precisa se cuidar para valer.
Do contrário, acontece o que vimos em nosso Estado em fevereiro e agora em março: após um clima de oba-oba, com praias e praças abarrotadas, festas clandestinas e máscaras esquecidas, as UTIs lotaram, vidas se perderam em ritmo assombroso e o comércio teve que fechar. Que essa dura experiência nos sirva de lição daqui para a frente.
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Desta vez, Ágatha não tem demonstrado apreensão com o risco de o Coelho não aparecer daqui a duas semanas. Pelo visto, concluiu que pode colocar fé nele. Suas preocupações têm girado em torno do tradicional almoço de Páscoa. A caçula defende que deveríamos bolar algo diferente neste ano. Como anda fascinada com os animes do Naruto, sugere um almoço ao estilo japonês.
– Poderia ser comida japonesa, com hashi ao invés de talheres…
– Hashi?
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– Siiiim, paiii. É o nome dos pauzinhos que os japoneses usam para comer.
Eis mais um desafio para nós, pais. Os hashi exigem uma técnica apurada de manuseio, que eu não domino – o que me deixa em risco de passar fome na ocasião. Além disso, não faço ideia de como é a Páscoa no Japão, país de tradição budista. A única certeza que tenho é que, lá, a Páscoa começa 12 horas mais cedo. Tá aí mais uma coisa a se aprender.
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