O solo que já serviu de cenário para outros recomeços, como o dos imigrantes alemães, foi o mesmo escolhido pelos senegaleses que vieram a Santa Cruz do Sul em busca de uma vida melhor. A jornada na terra prometida, porém, tem se mostrado um verdadeiro desafio. Há quase um mês, eles deixaram de vender seus produtos no Centro e hoje encontram dificuldades para trabalhar e garantir recursos para seu sustento e também da família.
Mame Thierno Thioune tem um currículo de dar inveja. Aos 30 anos, é graduado em Ciências Contábeis e sabe falar francês – idioma oficial do Senegal –, inglês, espanhol e um português totalmente compreensível. Junto dos três conterrâneos com quem divide uma pensão em Santa Cruz, cultiva o dialeto do país de origem.
Mesmo com tantos atributos, Mame está inativo. Não voltou a vender pulseiras, relógios e capas de celulares na Rua Marechal Floriano porque tem medo. Mês passado, durante uma ação no Centro, seus amigos tiveram prejuízo com os produtos recolhidos. Eles gostariam de se regularizar, mas a vontade esbarra na legislação do município, que proíbe a atuação de ambulantes no quadrilátero central.
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Nessa quinta-feira pela manhã, a pedido da Gazeta do Sul, Mame e os amigos Matar Diop e Mor Tine, também senegaleses, voltaram à quadra em que costumavam vender os produtos, entre as ruas Júlio de Castilhos e 28 de Setembro. Invisíveis para muita gente, rapidamente chamaram a atenção dos vendedores de lojas com quem mantinham uma relação de amizade. Todos estranharam a ausência dos rapazes, que pareciam ter evaporado de uma hora para a outra.
Os senegaleses tentaram migrar as vendas para o Bairro Arroio Grande, onde a prática poderia ser regularizada. Lá, no entanto, o movimento é baixo e não rende o suficiente para a sobrevivência. Mame e seus amigos não querem lucrar ou tirar a freguesia de ninguém: assim como qualquer um de nós, eles acordam cedo todos os dias e vão à luta em busca de recursos para se manter. E, no caso deles, para ajudar a família que ficou no Senegal. “Se no Senegal tivesse emprego, a gente ficaria por lá, mais perto da família”, afirma.
Mame deixou a esposa, os pais e os irmãos em seu país de origem. “Eu trabalhava com contabilidade. Estou no Brasil para poder trabalhar, procurar uma vida melhor para sobreviver e ajudar minha família”, explica. Mame diz que não foi nenhuma guerra, mas a falta de oportunidades que o fez sair do Senegal. Mesmo sem receber nada em troca, gosta de ajudar as pessoas. “Deus me ajuda porque me dá saúde, paz e liberdade para viver”, crê.
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