“Até que se tenha recebido, beija-se a mão de quem empresta; com voz humilde, fazem-se promessas; mas, chegando o tempo de restituir, pedem-se prazos; só se tem palavras pesarosas e queixas; e toma-se como pretexto a dificuldade da época” – Livro do Eclesiástico 29-5 e 6.
Em tempos normais, muitas pessoas costumam pedir dinheiro emprestado a familiares, amigos, colegas de trabalho, para resolver alguma situação pontual. Alguns, com muita responsabilidade, devolvem o dinheiro emprestado, no prazo combinado ou até antes; outros, precisam ser lembrados, quando também providenciam o pagamento; e tem aqueles que, simplesmente, desaparecem, não atendem mais os recados e ligações telefônicas, ameaçando até processar o credor por estar cobrando a conta, numa demonstração evidente que não tem a intenção de pagar o empréstimo tão cedo, se é que o pagará algum dia.
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É preciso ter em mente que cobrar não é feio, mas, há jeito certo para fazer isso e não criar um climão. Júlia Lewgoy, da revista Exame, dá algumas dicas de como cobrar esses empréstimos de amigos, mas que valem, certamente, também para familiares, colegas, evitando prejudicar os respectivos relacionamentos:
- Estabelecer um prazo: se, na concessão do empréstimo, foi combinada uma data para devolver o dinheiro, em princípio basta lembrar o devedor; mas, se não foi acertado nada, primeiro negociar uma data para que o devedor possa se organizar e realizar o pagamento;
- Sentir-se à vontade para cobrar: geralmente, não é fácil cobrar, mas o credor não deve constranger-se em pedir de volta o seu dinheiro, vez que o amigo, parente ou colega sentiu-se à vontade para pedir o empréstimo;
- Não deixar passar muito tempo: o tempo torna a cobrança ainda mais constrangedora; o devedor pode alegar que achou que o empréstimo não fazia falta a quem o concedeu ou tinha sido esquecido;
- Cobrar com sinceridade e empatia: muitas vezes, o credor já lembrou ao devedor do empréstimo, telefonou, mandou mensagens, etc., começando a perder a paciência, o que pode levá-lo a ser mal-educado, antipático, grosso, eventualmente até falando mal do devedor, expondo-o a situação vexatória ou até incorrendo em infração legal, como, por exemplo, cobrar no local de trabalho ; é recomendável conversar de maneira educada e ser sincero ao explicar porque quer o dinheiro de volta; lembrar ao devedor o custo de oportunidade, quer dizer, o que está perdendo por não dispor do dinheiro, emprestado por um curto tempo e que, agora, está demorando para retornar;
- Dar indiretas bem-humoradas: principalmente quando o valor envolvido é menor, sugerir que o devedor pague um churrasco, uma cervejada ou outra despesa qualquer; “pagar a dívida dói menos quando a pessoa não vê o dinheiro e ele é simbolizado por algo”, ensina Renato Azevedo, professor do MBA Fipecafi.
Se, após vários contatos, não receber qualquer valor em pagamento da dívida, é possível considerar que, verdadeiramente, o devedor não tem dinheiro ou, simplesmente, não quer pagar. Nesta situação, avaliar a possibilidade de contratar uma empresa terceirizada para conduzir a cobrança, libertando o credor de um trabalho “chato”, o que, em contrapartida, tem um custo pelo serviço que pode chegar a 50% do valor a receber, mas ainda é melhor do que não receber nada. Antes de qualquer providência mais séria, entretanto, e levando em conta o valor da dívida, verificar se vale a pena esse processo, ainda mais se o devedor for um parente ou amigo, porque a medida, certamente, vai impactar negativamente a relação.
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