Colunistas

Entre Lineus e Agostinhos: “A Grande Família” como espelho do Brasil

Por Anderson Kilpp
Auditor de Controle Externo

O último episódio de “A Grande Família” foi exibido em 11 de setembro de 2014, marcando o fim de 14 temporadas que mesclavam humor e lições sobre nossa sociedade, comportamento e valores. A dualidade entre o malandro Agostinho, sempre em busca de atalhos, e Lineu, o burocrata íntegro e fiscal irrefreável, ilustra a complexa dicotomia social que enfrentamos no Brasil. Não foi à toa a duração do programa que nos retratava de forma pura e verdadeira.

No TCE/RS somos fiscais. Auditamos o estado e as prefeituras. Lembro de uma situação em que auditei um contrato de doação de um imóvel. A prefeitura queria incentivar a geração de empregos e aumentar a arrecadação. Para viabilizar a vinda de uma empresa à cidade, ofereceu o terreno para sua instalação. Estabeleceu ainda contrapartidas para a empresa cumprir. Mas entre a teoria e a prática existe uma peça fundamental, o ser humano, que nesse caso não era exatamente um Lineu. A prefeitura simplesmente concedeu o terreno e nada registrou, não criou um processo administrativo de fiscalização e não nomeou servidor para fiscalizar. Ficou tudo “no fio do bigode”.

Publicidade

LEIA TAMBÉM: TCE esclarece: quem é o verdadeiro eleitor?

Nessas situações, para retornar à legalidade, o Tribunal de Contas dispõe de diferentes ferramentas, como é o caso do Comunicado de Auditoria, documento por meio do qual narramos as possíveis irregularidades para que o gestor tome providências. Depois disso, acompanhamos. Caso medidas não sejam tomadas, voltamos a intervir de forma mais incisiva com o uso de outros instrumentos, como é o caso da tutela de urgência, que visa impedir o andamento de licitações ou assinatura de contratos.

Interessa-me ressaltar, contudo, a necessidade de a Administração Pública respeitar a formalidade dos atos. Sabe aquela máxima do candidato de que vai administrar a prefeitura como se fosse uma empresa? A intenção pode ser boa, mas não funciona tão bem. No mundo real, sem controles e registros minuciosos – por vezes desprezados sem prejuízo na esfera privada –, abre-se a porta para irregularidades de toda ordem.

Publicidade

LEIA TAMBÉM: TCE Esclarece: afinal, o que faz o Tribunal de Contas?

Nesse caso, burocracia não significa ineficiência, mas respeito e zelo pelo público.

Lineu elogiaria essa burocracia, tranquilo quanto à legalidade dos atos. Agostinho, bem, ele ficaria um pouco perdido e defenderia o fim dos “controles excessivos”.

Publicidade


Os textos publicados quinzenalmente nesta coluna vão ao encontro da missão do Tribunal de Contas do Estado de orientar os gestores e promover a cidadania ativa para juntos aperfeiçoarmos a gestão pública em benefício da sociedade gaúcha, cujos temas também podem ser sugeridos pelos leitores.

LEIA MAIS NOTÍCIAS DE POLÍCIA

Publicidade

Guilherme Andriolo

Nascido em 2005 em Santa Cruz do Sul, ingressou como estagiário no Portal Gaz logo no primeiro semestre de faculdade e desde então auxilia na produção de conteúdos multimídia.

Share
Published by
Guilherme Andriolo

This website uses cookies.