Cultura e Lazer

Filme “O Agente Secreto” chega às telas dos cinemas gaúchos

Segunda-feira, 3. 17h30. Entusiastas e profissionais de cinema comemoram a abertura das portas da Cinemateca Paulo Amorim, localizada na Casa de Cultura Mario Quintana. Após cinco horas na fila, que se estendeu pela Rua das Andradas, chegava o tão aguardado momento em que o público finalmente iria assistir a O Agente Secreto. O filme entrará em cartaz nos cinemas de Santa Cruz do Sul nesta quinta-feira, 6.

A sessão do longa-metragem, escolhido para representar o Brasil no Oscar 2026, tornou-se cobiçada não apenas por ser gratuita, mas pela presença do realizador do filme, o diretor e roteirista Kleber Mendonça Filho. Após a exibição, o artista pernambucano, acompanhado da esposa, a produtora francesa Emilie Lesclaux, e da atriz Alice Carvalho, participou de um debate com os espectadores mediado pelo santa-cruzense Marcus Mello, pesquisador e crítico de cinema. 

Funcionário de carreira da Secretaria Estadual de Cultura, Mello nutre uma amizade com Mendonça há 25 anos. Eles se conheceram na época em que o cineasta era crítico de cinema (além de programador das salas em Recife) e visitava o Festival de Gramado. 

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Desde então, acompanha a carreira cinematográfica do amigo. Convidou-o para lançar seu trabalho anterior, o documentário Retratos Fantasmas, na Cinemateca Capitólio, marcando a primeira visita do pernambucano a Porto Alegre. “Temos uma forte afinidade, porque a nossa cinefilia é muito semelhante. Vimos os mesmos filmes na infância e adolescência, nos cinemas de rua”, acrescentou.

Mello – recentemente agraciado por uma honraria na França que reconhece a contribuição de personalidades ao desenvolvimento das artes e letras pelo mundo – assistiu a O Agente Secreto em sua primeira exibição pública no Brasil, no Recife (cidade onde se passa o filme). O encontro foi marcado por uma visita guiada feita pelo diretor às locações da capital pernambucana onde o longa foi gravado.

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Na avaliação do crítico santa-cruzense, o filme é “sensacional” e evidencia a maturidade absoluta de Mendonça Filho. “Ele está dominando completamente os recursos narrativos em O Agente Secreto. É um roteiro de arquitetura perfeita, com uma constelação de personagens em volta do protagonista, o Wagner Moura, em que todos têm o seu momento, com uma importância para o andamento da narrativa”, comentou o santa-cruzense.

A exibição comentada marcou o primeiro dia do 13º Festival de Roteiro Audiovisual de Porto Alegre (Frapa). O diretor-geral do evento, Leo Garcia, afirmou que a presença de Mendonça Filho foi um evento histórico. “Sonhávamos há anos em trazer o diretor”, destacou.

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Eu quero chamar todo mundo em Santa Cruz do Sul para ver O Agente Secreto. É um filme brasileiro que fala muito sobre a história do nosso país. Estou muito feliz que esse filme vai finalmente chegar nos cinemas e quero chamar todo mundo para assisti-lo.

Kleber Mendonça Filho
Diretor de O Agente Secreto

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Com duas horas e quarenta minutos de duração, o filme tem um ritmo impressionante, ele flui com muita naturalidade e velocidade. É um filme de um diretor que domina os recursos narrativos e a linguagem cinematográfica.

Marcus Mello
Pesquisador e crítico de cinema santa-cruzense

Obra nasceu da conexão do artista com seu passado

Enquanto o público assistia a O Agente Secreto, o diretor Kleber Mendonça Filho conversou com a imprensa, incluindo a Gazeta do Sul, que foi convidada para acompanhar o evento. Segundo ele, o filme nasceu durante seu trabalho anterior, Retratos Fantasmas, que o apresentou a materiais de arquivos que o reconectaram com as lembranças da infância e adolescência no Recife.

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O sentimento o encheu de energia para desenvolver um novo roteiro, uma ficção, que começou durante o final da pandemia. Mendonça Filho escreveu grande parte da narrativa na França, em uma igreja antiga que, após desativada, transformou-se em um cinema. “Aqui geralmente é o contrário”, brincou. 

Segundo o diretor, a escrita foi longa, durando cerca de dois anos. Mendonça Filho admite que pensou o roteiro para o ator Wagner Moura, que vive o protagonista. De acordo com a produtora do longa-metragem, Emilie Lesclaux, trata-se do filme mais próximo do roteiro escrito pelo marido. 

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Em entrevista à Gazeta do Sul, Mendonça Filho foi questionado sobre os fatores que levaram O Agente Secreto a se tornar uma obra nacional de repercussão mundial. Foi destaque no Festival de Cannes, tendo recebido os prêmios de melhor ator para Moura e de diretor para o pernambucano.

Na avaliação do cineasta, a obra conta com elenco carismático, sobretudo o protagonista [Moura], um astro que carrega o filme de maneira interessante. “É difícil pra mim, eu acho que você como observador talvez tenha uma distância maior. Acho que os observadores externos são mais aptos”, ponderou.

O diretor ficou sabendo da participação de Santa Cruz do Sul no cenário audiovisual, com destaque para o Festival de Cinema, a Film Commission e o Polo Audiovisual. “Eu quero muito ir [para Santa Cruz]”, disse com expectativa.

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Mais um Oscar?

A reportagem da Gazeta também perguntou sobre as apostas de Kleber Mendonça Filho para o Oscar 2026, uma vez que O Agente Secreto foi escolhido para representar o Brasil na maior premiação do cinema. “Essa sua pergunta me desconcerta um pouco [risos]. Estou indo para onde o filme me levar, eu vou alegre. Mas não consigo formular nenhuma categoria. O Oscar é uma festa dos Estados Unidos e estamos sendo muito bem recebidos lá. Esperamos ir longe.”

Na avaliação do crítico de cinema santa-cruzense Marcus Mello, amigo do diretor e mediador do debate, O Agente Secreto poderá estar entre os indicados com um filme norte-americano muito semelhante. Trata-se de Uma Batalha Após a Outra, de Paul Thomas Anderson, com o ator Leonardo DiCaprio no papel principal. Segundo Mello, esse filme faz uma crítica à situação política e social dos Estados Unidos na atualidade. “Ambos têm tensão e humor, é muito curioso. Só que, na minha opinião, o filme de Kleber é melhor realizado. É interessante a maneira como as coisas vão se desenrolando na nossa frente.”

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Mello ainda apontou o fato de Wagner Moura estar entre os favoritos para o troféu de Melhor Ator, sendo mencionado pelas principais revistas sobre cinema. Contudo, uma vez que a maioria dos filmes que competem no Oscar costumam estrear entre dezembro e janeiro nos Estados Unidos, o agente cultural avaliou que é necessário aguardar.

De qualquer forma, ele espera transmitir a cerimônia de premiação na Cinemateca Capitólio, assim como neste ano, quando o longa-metragem nacional Ainda Estou Aqui levou a estatueta de Melhor Filme Internacional. “Eu disse para o Kleber que espero voltar a transmitir novamente. E aí vamos pular novamente de alegria. Vamos torcer.”

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Julian Kober

É jornalista de geral e atua na profissão há dez anos. Possui bacharel em jornalismo (Unisinos) e trabalhou em grupos de comunicação de diversas cidades do Rio Grande do Sul.

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