A fé, a esperança e a devoção levaram milhares de pessoas ao Morro do Botucaraí, em Candelária, na manhã desta Sexta-feira Santa, 18, em mais uma edição da tradicional romaria que há décadas marca o calendário religioso da cidade. As atividades, reconhecidas como símbolo da espiritualidade regional, começaram às 9 horas e destacaram o chamado “Santo Cerro”, que voltou a ser palco de oração, contemplação e emoção, com programação que uniu religiosidade popular, teatro e tradição centenária.
Desde as primeiras horas do dia, romeiros de Candelária, municípios vizinhos e até mesmo de cidades mais distantes iniciaram a caminhada até o pé do morro, em sinal de penitência, fé ou agradecimento. O percurso começa ao lado da capela e da fonte de água considerada milagrosa, onde os fiéis recolhem garrafas do líquido que, segundo a crença popular, tem poderes de cura. Também é costume levar ervas, chás e objetos religiosos para a bênção realizada ao final da celebração.
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A programação oficial teve início por volta das 9 horas, com a celebração religiosa conduzida pelo padre José Carlos Stoffel, com reflexões sobre o significado da Páscoa e da fé cristã além do caráter de renovação espiritual que a romaria proporciona, especialmente diante do cenário natural do Botucaraí, que favorece o recolhimento e o contato próximo da natureza. O momento foi seguido benção por água benta, onde o padre andou por todo os arredores onde estavam os fiéis, os abençoando.
Na sequencia ocorreu a encenação Pascal da Paixão e Morte de Cristo pelo Grupo de Teatro Cara & Cor’Agem, da Associação Cultural de Candelária Érico Veríssimo (Accev). Com cerca de uma hora de duração, o espetáculo comoveu os presentes com cenas marcantes dos últimos momentos de Jesus Cristo em vida.
A agricultora Adriana Cristina Gewehr Guimarães, de 37 anos, saiu de casa ainda de madrugada para participar da romaria. “Moro no outro morro, do lado de lá. Dizem que a água aqui é sagrada, que é benta, para curar. A gente vem para tomar dela, pedir bênçãos para o ano e agradecer as que já recebeu”, relatou. Ao lado de amigos, Adriana caminhou por cerca de duas horas até o local. “É um dia santo, de muita reflexão. É a primeira vez que assisto à encenação, dizem que é muito bonita, emocionante.”
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A programação oficial teve início com a romaria, seguida da encenação da Paixão e Morte de Cristo pelo Grupo de Teatro Cara & Cor’Agem, da Associação Cultural de Candelária Érico Veríssimo (Accev). Com cerca de uma hora de duração, o espetáculo comoveu os presentes com cenas marcantes dos últimos momentos de Jesus Cristo em vida.
Neste ano, o personagem de Jesus foi representado por Lucas da Silva Padilha, de 15 anos. “Já interpretei Jesus na escola, então me sinto íntimo do personagem. É uma grande satisfação representar nosso Salvador, que se sacrificou por nós. Sinto uma energia muito boa, estou feliz e esperançoso”, contou o jovem ator, envolvido com o teatro há alguns anos.
A peça, encenada desde 2006, contou com a participação de cerca de 25 atores voluntários e direção da atriz Lilian Schüncke, que também interpretou Maria de Nazaré, a peça reforçou trechos emblemáticos da narrativa bíblica, como o julgamento de Cristo, o peso da cruz e a dor de Maria ao receber o filho morto em seus braços, imagem que remete à escultura Pietà, de Michelangelo.
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Uma das novidades deste ano foi a presença da personagem Maria de Betânia. “Queríamos enfatizar a importância de ouvir as lições do Mestre. Maria de Betânia era julgada por abandonar os afazeres das mulheres para ouvir Jesus. É uma figura forte, mas mal compreendida na época, especialmente pelos homens”.
Entre os fiéis que acompanharam o espetáculo, estava Adriani Hoesel, de 38 anos, ao lado do filho Bernardo, de 7. “É a primeira vez que viemos assistir à encenação. Já subimos o morro em outros anos, mas este é especial. Queríamos que nosso filho conhecesse essa história e entendesse por que estamos aqui”, comentou.
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Fiéis como Murilo Roberto Santos da Silva, mecânico de Rio Pardo, reforçam a dimensão coletiva da celebração. “Todo ano a gente vem. É um evento cultural e de fé. Vim pagar uma promessa hoje. A subida é difícil, não é pra qualquer um. Fico feliz de ver idosos chegando lá em cima e cumprindo suas promessas”.
A romaria, que mobiliza o município e atrai público de diversas regiões, contou com o apoio da Prefeitura de Candelária, por meio da Secretaria de Turismo, Cultura e Cidadania. O prefeito Nestor Ellwanger (Rim) destacou o esforço da equipe para garantir a estrutura do evento. “Isso aqui não se faz de um ano pro outro. É uma romaria de 50 anos. A fonte foi toda remodelada, e vem gente de fora o tempo todo. Aos domingos também tem bastante movimento, com pessoal subindo, tomando chimarrão, fazendo churrasco. E ainda vamos construir uma escada de 100 metros num trecho mais complicado”.
Além da Brigada Militar, Bombeiros Voluntários e Secretaria Municipal de Saúde, a organização contou com ambulância, banheiros, segurança privada e orientações de acesso. Tudo para acolher os romeiros com conforto e segurança.
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Conhecido pelos povos originários como Ybyty-caray, que significa “Monte Santo” em tupi-guarani, o Morro do Botucaraí guarda em sua história elementos que ajudaram a consolidar a devoção ao local. Entre os anos de 1845 e 1848, o cerro foi morada do monge italiano José Maria de Agostini, conhecido por relatos de curas, bênçãos e rituais de fé. Sua presença transformou o morro em destino de peregrinação que, mais de um século depois, segue atraindo famílias inteiras em busca de fé, silêncio e esperança. Em razão disso, a romaria de Candelária é uma das mais importantes e reconhecidas do interior do Rio Grande do Sul.
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Maria Madalena e Maria de Betânia são personagens diferentes nos relatos bíblicos, porém que por terem nomes parecidos, podem causar confusão.
Maria Madalena
Maria de Betânia
Apesar de algumas tradições antigas terem confundido essas figuras (e até fundido Maria Madalena com a mulher pecadora que unge os pés de Jesus em Lucas 7), a maioria dos estudiosos e a Igreja Católica, desde o século XX, tratam Maria Madalena e Maria de Betânia como duas mulheres distintas.
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