Francisco Teloeken

Francisco Teloeken: “Mesada não é salário nem troco”

Há poucos dias, o calendário de eventos marcou o Dia das Crianças. Além dos negócios que movimentam esse dia especial, mostrando um pouco do consumismo que permeia nossa sociedade, a data sugere que se façam outras considerações. É que crianças e dinheiro é uma combinação cada vez mais precoce e, como mães e pais, as pessoas têm inúmeras preocupações com o futuro de seus filhos. Um belo dia, sem que os pais ou responsáveis tivessem se preocupado com isso, a criança que mal consegue articular algumas palavras ou frases, mas que é curiosa por natureza e presta atenção em conversas e situações, entende que existe dinheiro ou alguma ferramenta, sabe quem os tem e que com eles é possível comprar coisas coloridas, divertidas e gostosas. É o momento, então, de acordo com a maturidade da criança, de começar a educação financeira. 

Uma das maneiras de introduzir a criança no mundo do dinheiro ou das ferramentas que o representam – cartões, celulares etc – é através da mesada. Trata-se de uma quantia em espécie, em cartão ou por Pix, que os pais ou responsáveis dão por mês, quinzena, semana ou até diariamente, dependendo de cada situação, a seus filhos ou enteados. A função principal da mesada é ensinar à criança ou ao jovem a preparar e cumprir um orçamento. Isto é, a mesada existe para treinar o hábito financeiro de fazer dinheiro, gastar e poupar desde pequeno. Somente entregar o dinheiro para o filho ou enteado, dizendo que é mesada, ainda não é educá-lo financeiramente. Parece mais uma forma de livrar-se da chateação de ter que alcançar algum dinheiro a toda hora.

LEIA TAMBÉM: Dia das crianças, além dos presentes

Publicidade

Com que idade começar a dar dinheiro para as crianças?

Recomenda-se adotar a semanada para crianças de 6 a 10 anos, e a mesada para crianças a partir de 11 anos, podendo variar ligeiramente de acordo com a maturidade de cada uma.

Que valor adotar?

Deve ser um valor que reflita realidade da família e dos filhos, mas não alto demais para não estimular um consumismo, nem baixo o suficiente para provocar frustração e incapacidade de gestão. Para crianças de 6 a 10 anos, a semanada pode ser de ser de R$ 1,00 multiplicado pela idade por semana para efetuar pequenas compras, como um doce. Já na mesada, adotada para crianças a partir de 11 anos, o valor deve ser negociado e definido entre pais ou responsáveis e as crianças, para atender a despesas de ônibus, lanche e compra de jogos, entre outros gastos.

É importante saber que, ao decidir pela mesada, os pais ou responsáveis precisam orientar e acompanhar a criança e adolescente em relação ao uso do dinheiro. Faz parte dessa orientação a recomendação para que a criança e adolescente poupem uma parte da mesada para realizar algum sonho maior e, também, doem para alguma finalidade social. 

Publicidade

LEIA TAMBÉM: Mês do idoso

Ao dar mesada aos filhos ou enteados, muitos pais ou responsáveis tem cometido alguns erros que podem fazer com que o efeito seja o contrário do que se está pretendendo. Reinaldo Domingos, criador da DSOP Educação Financeira e presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin), cita alguns:

  1. Desequilíbrio: a criança não deve guardar todo o seu dinheiro para realizar sonhos; ela pode ficar obsessiva com o dinheiro, tornando-se avarenta no futuro.
  2. Violação: não usar o dinheiro guardado pela criança para pagar alguma conta da casa.
  3. Ruptura: com pena dos filhos, pais podem antecipar a compra do objeto para o qual a criança está guardando o dinheiro; ela pode achar que não precisa esforçar-se para conseguir as coisas que deseja.
  4. Permissão: se a criança gastou logo a sua mesada, não adicionar um novo valor; ela precisa aprender a vivenciar as consequências de seus atos.
  5. Desmedida: a mesada não deve ser usada como prêmio pela realização de trabalhos domésticos ou notas boas na escola, nem ser suspensa ou retirada como forma de castigo; na concepção de Reinaldo Domingos, atrelar a mesada ao desempenho ou comportamento da criança só deseduca. A criança pode achar que praticar ações boas ou virtuosas, como arrumar a cama e tirar notas boas, só vale a pena se tiver recompensa financeira.
  6. Remuneração: em complemento ao item anterior, a mesada não é ”salário” pra tirar notas boas ou fazer tarefas de casa.
  7. Sonegação: não dar exemplo errado para os filhos, negociando uma compra sem nota fiscal em troca de desconto.

Muitos pais ou responsáveis pensam que ao falar sobre dinheiro com os filhos poderiam estar sobrevalorizando o dinheiro. É evidente que a prioridade de nossa vida não pode ser o dinheiro. Entretanto, se não lhe dermos a atenção suficiente, cedo ou tarde, nossas confusões financeiras vão roubar nossa energia e tempo que deveriam ser usados para ir atrás de objetivos mais importantes que o dinheiro. Como alguém já disse, “o dinheiro não aceita desaforo”. E uma boa educação começa em casa, inclusive quando o assunto é finanças.

Publicidade

LEIA MAIS TEXTOS DE FRANCISCO TELOEKEN

QUER RECEBER NOTÍCIAS DE SANTA CRUZ DO SUL E REGIÃO NO SEU CELULAR? ENTRE NO NOSSO NOVO CANAL DO WHATSAPP CLICANDO AQUI 📲. AINDA NÃO É ASSINANTE GAZETA? CLIQUE AQUI E FAÇA AGORA!

Publicidade

Guilherme Andriolo

Nascido em 2005 em Santa Cruz do Sul, ingressou como estagiário no Portal Gaz logo no primeiro semestre de faculdade e desde então auxilia na produção de conteúdos multimídia.

Share
Published by
Guilherme Andriolo

This website uses cookies.