Guerras são empreendidas por conquistas, pela ânsia por um novo lugar ao sol. Desde os tempos das cavernas, a humanidade entra em conflitos por algo melhor. Para si, para sua tribo.

O dom de perceber o futuro e montar o presente é semelhante à fábula das formigas trabalhando no verão para subsistir no inverno. Cresci ouvindo que se as formigas estão com pressa em guardar comida, é sinal de que o inverno será bagual.

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As guerras, como todo tipo de crise, revelam o pior e o melhor das pessoas. A luz sempre rompe as trevas, isso é certo. Assim como se aprende na escola o que se esquece na guerra.

Mas quantas pessoas permitem que seja iluminado seu lado sombrio? É muito mais cômodo ter iluminadas nossas qualidades. Quanto mais as pessoas se escondem sob suas qualidades, maiores são as trevas que habitam suas almas.

Nas relações interpessoais, o mais desafiador é ser transparente e original, ainda que isso signifique ser avesso às tendências ou às imposições morais de um determinado contexto social. Ser o herói de uma guerra pela paz é uma missão ingrata.

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Foi o que tentou fazer o príncipe Mishkin, personagem principal da obra O idiota, de Dostoiévski. Mesmo sem pretender impor sua bondade sobre os outros, Mishkin se tornou insuportável para as pessoas que não viam em si o homem puro que o príncipe era, tanto por sua estirpe quanto por suas atitudes.

As mesmas sombras que geram as guerras do mundo, na obra de Dostoiévski, amassaram e devoraram a pureza de um homem que buscou sobreviver negando os perigos de desfilar sua sinceridade. A tragédia de Mishkin sugere que certas realidades da sociedade precisam ser tapadas por algumas máscaras, sob pena de levar o povo à ira e à guerra.

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Guerra nenhuma deve pretender mudar a natureza das pessoas. Elas são o que o ambiente as criou para serem.

O ímpeto de ajudar, de construir, não passa de uma idealização sobre o que poderia ser, uma vez que as pessoas em geral só querem ficar encubadas em suas realidades. Parece ser mais seguro assim, afinal “viver é fácil com os olhos fechados”, já diria John Lennon.

Guerras ocorrem quando lideranças nutrem apego ao mofo de suas trevas pessoais, presas no seu admirável mundo velho que a evolução superou. A guerra volta a cada três ou quatro gerações, no momento em que a paz de alguns se torna insuportável para quem chega ao poder.

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Acabamos por aceitar que preparar uma guerra é melhor do que ensinar que todas as revoluções do mundo começaram com um grito comum por mudança. Guerra é o que antecede ou o que esculhamba as mudanças que uma revolução pretende trazer.

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Bruno da Silveira Bica

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Bruno da Silveira Bica

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