Por Elenor Schneider*
Professor
elenorjschneider@gmail.com
A evolução, especialmente tecnológica, afeta inúmeras páginas da vida de cada um de nós. Um dos segmentos atingidos é o das narrativas. Narrar sempre foi uma das melhores formas de acalentar a convivência e a sobrevivência das comunidades. Caçadores e pescadores renovavam a vida dos seus grupos narrando suas peripécias, alimentando a fantasia e despertando desejos dos mais jovens de também buscar novos rumos para sua história pessoal. Narrar preserva viva a história e cria desejos.
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As fotografias impressas não flagravam todos os momentos, apenas os essenciais. E o que não era impresso se preenchia com narrativas eivadas de lembranças, costuradas com carinho e ternura. Hoje, tudo é fotografado, mas poucas imagens restam para sustentar as narrativas do porvir. Muitas vezes, para aliviar o peso da memória dos equipamentos modernos, a caixa atingida é a dos registros fotográficos. A área é limpa para novos registros, mas muitas vezes com a água usada do banho vai junto a criança.
O que não registramos desaparece e grandes feitos, sobretudo aqueles que envolvem pessoas anônimas, sem ânsia de holofotes, submergem nas fímbrias do tempo. E aí vou ao que me propus a narrar, uma história que habita desde então minha memória e, acredito, ninguém, até mesmo da família deste generoso cidadão, tenha conhecimento.
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Um médico foi chamado e ele foi até a residência assinalada. Saiu da casa determinando que ninguém daquela pequena comunidade tivesse contato com os doentes. E teria dito mais: não apanhem uma fruta sequer na propriedade dessa gente.
E aí, contou meu pai, um cidadão, de nome Johann Schmitt, decidiu por sua conta e coragem: ‘Eu não vou abandonar essa gente!’ E com o risco de perder a vida, foi socorrer esses condenados, alcançando-lhes a solidariedade sem preço que só almas com tal grandeza conseguem oferecer.