Foi no início da década de 1990, com a desintegração da União Soviética, que o economista e filósofo Francis Fukuyama publicou seu famoso livro sobre o “fim da história”. Mais ou menos nessa época, em 1993, o cientista político Samuel Huntington lançou outro texto que provocou intensos debates: O choque de civilizações.

Huntington dizia que identidades culturais e religiosas seriam a principal fonte de guerras e conflitos no mundo pós-Guerra Fria, mais do que ideologias políticas. Bem diferente era a visão de Fukuyama em O fim da história e o último homem. Para este, com a derrota do comunismo, as chamadas democracias liberais não tinham mais “nenhum competidor ideológico importante”. Esse jogo havia acabado.

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E Fukuyama achava isso ótimo. Acreditava que, com um planeta unido pela mesma concepção liberal – em suas palavras, “o auge da evolução sociocultural” e “a melhor solução para o problema humano” –, os conflitos bélicos deixariam de ser opção. No mundo que enxergava, entre pacíficas democracias interconectadas, o reconhecimento universal e racional tomaria o lugar da luta pela dominação.

Ler O fim da história e o último homem é uma experiência curiosa, porque salta aos olhos o contraste entre a argumentação apaixonada do autor e a óbvia fragilidade da tese. Como é possível, em qualquer momento, afirmar que a história agora terá um fim? Só os profetas do Antigo Testamento chegavam a algo similar em matéria de pretensão. Era uma visão ingênua, percebia-se, e seu poder de convencimento não resistiu ao 11 de setembro de 2001.

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Revisitado hoje, há que se reconhecer alguns pontos. O liberalismo econômico se impõe de fato como horizonte em termos produtivos, abraçado inclusive pela China, que busca combiná-lo com mecanismos de repressão política nada liberais. A nova tendência.

Mas qual é o pano de fundo dos conflitos na Palestina e Ucrânia? Ideológico ou cultural/identitário? Talvez Huntington tenha algo mais consistente a dizer. E talvez seja cedo para afirmar a que ponto ambos, ele e Fukuyama, erraram ou acertaram nos pontos de vista.

Ainda fico com Hannah Arendt, para quem a ideia de “fim da História” nem fazia sentido. “Nenhuma ideologia pode suportar a imprevisibilidade que advém do fato de que os homens são criativos, de que podem produzir algo novo que ninguém jamais produziu”, escreveu. E nenhuma pregação identitária.

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Guilherme Andriolo

Nascido em 2005 em Santa Cruz do Sul, ingressou como estagiário no Portal Gaz logo no primeiro semestre de faculdade e desde então auxilia na produção de conteúdos multimídia.

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