Após mais de três décadas como dono de um armazém, na Rua General Osório, em Rio Pardo, um comerciante decidiu passar a atender seus clientes através de um portão de ferro. A precaução foi adotada depois que ele foi rendido por um ladrão e agredido, no início da semana passada.
As grades já haviam sido instaladas como forma de evitar os arrombamentos, mas agora servem também para filtrar quem entra em seu estabelecimento. O idoso, de 70 anos, foi uma das vítimas dos 19 roubos registrados nos últimos três meses no município. O índice e o emprego de violência por parte dos criminosos preocupam a polícia.
Chovia forte quando um homem, com uma touca na cabeça, ingressou no pequeno mercado por volta das 14h20. O proprietário estava junto ao balcão, enquanto a mulher dele, de 65 anos, descansava dentro de casa. Ao idoso, ele perguntou sobre uma marca de cigarros.
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“Eu disse que não trabalho com esse tipo de cigarro e mostrei os que eu tinha”. Em seguida, ele foi até a rua, dizendo que iria questionar um amigo, que o aguardava do lado de fora, sobre qual delas preferia. “Ele disse que iam para uma pescaria. Ele entrou aqui pra ver se eu estava sozinho”.
Logo depois, o ladrão retornou com um facão na mão. “Não grita. Fica quieto”, ordenou. Fechou a porta do mercado e partiu para cima da vítima. “Ele me deu dois estouros no peito com o facão. A minha sorte é que estava frio. Tinha bastante roupa. Aí não me machuquei. Só ficaram as marcas”.
O criminoso obrigou o comerciante a permanecer no chão, enquanto ele revirava a gaveta. Ele fugiu levando uma pequena quantia em dinheiro e alguns cigarros. “Antes de sair disse pra eu não olhar para onde ele ia”. Desde então, o comerciante decidiu manter a grade fechada, na tentativa de se proteger. “Eles sempre pegam a gente de surpresa. Não tem como reagir”.
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O índice, segundo o delegado Anderson Faturi, é considerado preocupante. A média normal para a cidade é de três a quatro registros desse tipo por mês. Nesses primeiros dias de julho, já foram sete roubos. Dos 19 casos, dois foram solucionados e os demais seguem sendo investigados.
A polícia tem buscado, conforme o delegado, identificar, prender e indiciar os autores. No entanto, a prisão nem sempre é possível, seja pela falta de provas ou pelo entendimento da Justiça de que não cabe prisão. Segundo Faturi, os bandidos vem adotando cada vez mais cuidados para tentar evitar a produção de provas contra eles. Na maior parte dos casos, os ladrões estavam encapuzados. “Não estão cometendo de rosto limpo. Sabem que podem ser reconhecidos”.
Agressões
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O relato das agressões, como forma de intimidar as vítimas, não é novidade para a Polícia Civil. Segundo o delegado, os casos registrados nos últimos meses foram marcados pela brutalidade. “A grade maioria tem sido com violência. Há relatos inclusive de disparos de arma de fogo, em dois casos”. Esse tipo de ação preocupa ainda mais a polícia, por conta do risco de se transformar em um latrocínio (roubo com morte).
Diferentes grupos
Os policiais identificaram até o momento o envolvimento de, pelo menos, três grupos nos roubos, que agem de forma diferente. Um deles, formado por dois indivíduos, seria responsável pelos ataques a estabelecimentos e algumas residências na área central. Outro estaria envolvido em ataques a residências no interior. Um dos suspeitos de participação nesses crimes foi preso no mês passado pela Brigada Militar. Em relação a um roubo ocorrido em uma fazenda, próxima da ERS-403, onde foram levadas cinco armas, a polícia acredita que se trata de outro grupo. Quatro possíveis envolvidos foram identificados pela polícia, que busca reunir provas. Segundo o delegado, todos os suspeitos têm diversos antecedentes criminais.
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OS DADOS
19 assaltos
14 na cidade
5 no interior
12 com arma de fogo
7 com arma branca
Fonte: Polícia Civil
Criminosos levaram 18 armas
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No mesmo período do levantamento, a Polícia Civil contabilizou sete casos em que armas foram levadas de residências ou estabelecimentos. Foram cinco registros de furtos e dois de roubos, que resultaram em 18 armas levadas pelos bandidos. Dessas, somente uma foi recuperada até o momento. “Essas armas estão caindo na mão dos criminoso e sendo usadas para cometer novos delitos. É uma bola de neve”.
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