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Isso é bom pra quem, cara-pálida?

Algumas palavras me incomodam. Empreendedorismo, por exemplo, é uma que me causa arrepios. E como é usada. A toda hora, sob qualquer pretexto: empreender, a solução para quase todos os males. Ah, tá.

A realidade, e as estatísticas comprovam, é que o sucesso vem para poucos. A maioria rema, investe o que tem e o que não tem e, não raro, acaba por desistir.

Que coluna pessimista, você deve estar pensando enquanto me lê. Mas, acredite, é só empatia. Tenho convicção de que as mentes empreendedoras e suas ousadias são fundamentais. E que se não fossem elas, ainda estaríamos andando de carroça e tomando banho na sanga. Ou coisa pior.

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Também não se trata, como pode parecer, de desejar a derrota para os que buscam melhorar suas condições econômicas. Longe disso. O que me perturba é a amplitude da ideia. A incrível transformação de uma política de emprego em doutrina de vida.

Empregados, desempregados, remediados, indecisos e insatisfeitos de todos os matizes são os alvos preferenciais. Dos mais diversos cantos ouve-se a proposta: “Vá empreender, vá ser dono do próprio negócio, vá trabalhar sem patrão”. E para arrematar, bem baixinho: “Se você fracassar, a culpa é só sua”.

O pior desse culto desmedido à meritocracia é que as vítimas acreditam nele. Mesmo quando todos os indicativos mostram que seria melhor ter mais cautela. Que seria melhor estudar mais antes de montar uma fábrica de guarda-chuvas no deserto. Pessoas sem nenhuma experiência, e não raro sem noção em negócios, se jogam em aventuras comerciais com a certeza de que vencer depende só delas.

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Até dá para entender que no sistema em que vivemos o empreendedorismo cumpre a função de aliviar a pressão do desemprego sobre o mercado de trabalho. Ok, regras do jogo. Acho que muitos de nós preferiríamos um modo de produção menos competitivo e desigual. Paciência, isso é o que temos no momento. E nada indica que as coisas mudem tão cedo.

Então, vamos apostar no empreendedorismo. Acolher novas ideias, promover a formação de candidatos, garantir incentivos etc. Tudo mais ou menos bem. Pode até funcionar, gerar empregos, aquela coisa toda. Uns avançam, outros ficam pelo caminho. Mas e quando isso vira ideologia? Quando acima do bom senso instala-se um discurso preconceituoso? Quando você lê que ser celetista é coisa de pobre? E quando essa afirmação contra o pobre sai da boca do pobre?

Afinal, o que é ser pobre mesmo, agora que todo guri e toda guria sem futuro quer ser influencer?
É como uma roda a girar, repetindo sempre a mesma lógica. Sempre os mesmos privilegiados, sempre os mesmos remediados, sempre os mesmos excluídos. De vez em quando alguém salta do seu lugar e ocupa uma posição à frente. Às vezes, atrás. E a vida segue.

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Ricardo Gais

Natural de Santa Cruz do Sul, Ricardo Luís Gais, 27 anos, é jornalista multimídia no time do Portal Gaz desde 2023.

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