Mercedes Vazques, diretora executiva da ITGA, e José Javier Aranda, presidente da entidade, apontaram riscos à produção
Segundo maior produtor mundial de tabaco, com a colheita de 720 mil toneladas na última safra, e maior exportador desde 1993, o Brasil é talvez o principal interessado no que se debate em uma COP. Mas vários outros países acompanham com atenção as discussões.
Durante essa semana, a Associação Internacional dos produtores de tabaco (ITGA) marcou presença em Genebra, na Suíça, com seu presidente, o argentino José Javier Aranda, e a diretora executiva Mercedes Vazques. A eles juntaram-se líderes de vários países, como os da Associação Europeia de Produtores de Tabaco (Unitab Europa), presidida pelo italiano Gennarino Masiello, dirigente da organização que agrupa os produtores da Itália. E ainda estiveram na Suíça líderes de Polônia, Bulgária, Portugal e Cazaquistão, entre outras nações.
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Em nome da ITGA, Aranda fez contundente manifestação em torno dos temas em pauta na COP-11 e da proeminência do Brasil nesse contexto, ao receber a Gazeta do Sul no hotel onde esteve hospedado. Começou por dizer que “na COP não se decide absolutamente nada de positivo”. Argumentou que em duas décadas de Convenção-Quadro, a única coisa que a OMS conseguiu promover foi o aumento do comércio ilegal no mundo, pois colocou entraves ao cigarro legal, pagador de tributos, mas nunca teve qualquer sucesso em inibir o ilícito. “Pelo contrário”, frisou.
E apontou que a produção segue a mesma, até com incremento, e o consumo legal permanece estável. “Só o que aumentou mesmo foi o ilegal, com astronômica sonegação de tributos, a colocação de cigarros de origem duvidosa, sem qualquer controle de qualidade, no comércio e, portanto, com risco de dano muito maior à saúde. O resultado dessa Convenção-Quadro é péssimo para todos, não há ninguém que ganhe algo com isso.”
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Para Aranda, o que espanta mesmo é que seja o Brasil o maior prejudicado e, no entanto, seja o governo brasileiro o responsável, pelo empenho de sua delegação. “Como o governo, os políticos, não se dão conta do que fazem, e não compreendam o que o tabaco representa para o País? Se alguém quer acabar com o cigarro, deve proibir que se fume. E não atrapalhar a produção. Enquanto houver países que liberam o cigarro, e são todos!, é óbvio que alguém seguirá produzindo tabaco. Se o Brasil não quer esse mercado gigantesco, que lidera há três décadas, pode estar certo que outras nações vão ficar muito felizes e satisfeitas em ocupar o espaço.”
O presidente da ITGA advertiu para os riscos sociais e econômicos. “O que o Brasil espera que façam as centenas de milhares de famílias envolvidas na atividade? O que será delas? Que alternativa o governo propõe? O próprio Brasil tanto ataca a própria produção que uma hora vai mesmo conseguir que concorrentes ocupem seu lugar”. E arrematou: “De verdade, me dói no coração ver um país deter tamanha fatia de mercado de um produto agrícola, e seu governo autorizar representantes a se empenharem em acabar com um negócio dessa grandeza. Eu teria é orgulho dele!”
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Sobre a proposta, seguidamente apresentada, de substituição do tabaco na pequena propriedade, observa que é tarefa praticamente impossível. “A COP, com o Brasil apoiando a proposta, diz que a solução é deixar de produzir tabaco. Mas qual é o remédio para fazer isso? O que vão ministrar? Não tem remédio. Em lugar algum. Não existe remédio. É um completo ingênuo, ou lunático, quem propõe algo assim.”
E desafiou a delegação do governo brasileiro a expressar com coerência o que sabe sobre a produção, ou mesmo se a conhece de perto. Aranda apontou que, como exemplo do valor que a Argentina dedica a essa cultura, há 50 anos o país possui um Fundo Especial para o Tabaco, pelo qual parcela do valor do cigarro comercializado é direcionado aos produtores. Agora está em análise a adoção de medida semelhante no comércio de dispositivos eletrônicos, usem eles ou não nicotina obtida a partir dessas folhas. É entendida como via para auxiliar na sustentabilidade da produção.
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