Cultura e Lazer

La Bella Italia: raízes culturais e históricas que tocam o presente com ITALEA

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Tive a oportunidade de entrevistar Marco Zaccarelli, responsável pelo programa Italea Piemonte, uma iniciativa que oferece suporte aos descendentes de italianos na sua pesquisa de raízes e a chance de realizar uma “viagem de raízes” – uma experiência que vai muito além do turismo, e que se torna uma jornada profundamente pessoal e imersiva. Através de roteiros personalizados, o programa auxilia os viajantes na busca por registros familiares, no contato com comunidades locais e na visita a lugares que guardam a memória de seus antepassados.

A conversa foi um aprendizado profundo sobre imigração. Mesmo que os italianos tenham chegado ao Brasil há 150 anos – marco que esta coluna celebra –, o tema permanece atual. A narrativa, no fundo, segue a mesma: a imigração ocorre por motivos profissionais ou pela busca de melhores condições de vida. Muitas vezes, não é uma escolha. Em momentos de dificuldade extrema – como o que viveram muitos italianos, em cenários pós-guerra, fome e falta de oportunidades –, o horizonte no país natal se fecha. E mesmo com profundo senso de pertencimento e amor à terra de origem, a grande mudança de vida passa a parecer a única solução possível.

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As promessas de novas terras para trabalhar e construir uma vida digna reacenderam esperanças. Mas também trouxeram desafios: atravessar o oceano em condições precárias, desbravar terras cruas, construir cidades do zero. Aos obstáculos físicos, somam-se os emocionais e psicológicos.

É aqui que entra a palavra “saudades”, uma constante na vida de quem parte. Uma palavra que só existe na língua portuguesa – e que, ainda que não tenha tradução exata, é universal no sentimento. Em italiano, há “nostalgia”, que expressa a melancolia por algo perdido ou distante, e “mancanza”, que significa a falta de algo ou alguém, como os familiares que permaneceram.

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Assim como os imigrantes sentiram, talvez você, como descendente, também sinta nuances semelhantes em relação à Itália – mesmo sem nunca ter pisado em suas terras. Marco Zaccarelli me disse algo que me tocou profundamente: somos como árvores gigantes, que atravessam os séculos com galhos que se estendem para o futuro. Cada galho contém um antepassado; cada folha, uma memória viva dentro de nós. Somos o todo, e também cada parte individual. Não por acaso falamos de “árvore genealógica”, que é como uma árvore representa o resultado de toda pesquisa genealógica. E, com o passar do tempo, vamos perdendo as formas desses galhos: poucos conseguem nomear seus bisavós; menos ainda os trisavós. A memória vai se apagando quando não é alimentada.

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“ITALEA realiza essa pesquisa genealógica, facilitando a reconexão com as raízes”, contou Marco. “Fazê-la sozinho é muito difícil. Nem todos os registros estão acessíveis; muitos desaparecem quando os protagonistas da história também desaparecem. Mas, quando um nome de antepassado nos é apresentado, sentimos que aquele nome é nossa raiz. Ele nos completa. Ele nos dá chão. Honramos nosso passado no presente. E, quem sabe, descobrimos que o nome do nosso filho é o mesmo do bisavô. E isso nos aproxima – como se o tempo se curvasse e voltasse a nos unir.” O próprio Marco fez sua pesquisa, conseguindo “retornar no tempo” por quase 400 anos: seus antepassados também foram imigrantes no Uruguai, Califórnia, França e Inglaterra.

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Mas a árvore genealógica é só o começo. O programa ITALEA permite reviver a história de forma concreta, através da chamada “Viagem de Raízes”. Não se trata apenas de dados e nomes em um papel, mas de pisar na terra dos antepassados, caminhar pelas mesmas ruas, visitar o vilarejo onde viveram e, em muitos casos, a própria casa onde moraram.

“É difícil descrever o que se sente nesse momento. É como se uma peça perdida finalmente encontrasse seu lugar. Aquela ausência silenciosa que você sempre carregou – sem saber de onde vinha – ganha forma, som e aromas. A memória, até então abstrata, se materializa diante dos seus olhos. Você não está apenas vendo uma paisagem: está se enxergando nela. É quase como se pudesse ver seu bisavô abrindo aquela porta, ouvir risos vindos da cozinha, tocar as paredes que guardaram gerações. Essa experiência não é apenas sobre o passado. É sobre se reconhecer. É sobre se completar.”

“Viagem de Raízes” permite retornar no tempo, ao contexto da emigração no século 19 | Foto: Niccolò Fusaro

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Marco me contou sobre uma família que realizou a “Viagem de Raízes” e visitou o Porto de Gênova exatamente 120 anos depois da partida de seus antepassados, no mesmo dia. Eles viveram a história da família na própria pele. Uma experiência única, proporcionada pelo ITALEA. E, sim, pode ser alinhada a uma viagem turística: nada impede de conhecer Roma, Veneza e Milão, mas com um toque pessoal e emocional. O atendimento é totalmente personalizado.

Para concluir, uma reflexão. Hoje tudo é registrado digitalmente: GPS, redes sociais, e-mails, cartões de crédito, milhares de fotos. Mas quantos desses registros virtuais realmente sobreviverão ao tempo? Fazendo esse trabalho sobre imigração italiana, percebo que para manter nossa história viva precisamos também registrar de forma física. Não revelamos mais fotos. Não escrevemos mais em diários. Tudo o que sabemos dos nossos familiares veio de registros palpáveis.

Sim, a tecnologia é uma aliada. Mas não podemos esquecer do analógico. Não guardamos mais os processos. Apagamos os rascunhos e deixamos só a versão final. Perdemos o caminho, os bastidores da memória. E há sempre o risco de que uma simples atualização apague tudo. Se você também quer que seus futuros descendentes conheçam suas raízes, revisite sua história com o ITALEA. Em complemento, documente sua própria vida no presente e crie raízes para o futuro. Para mais informações sobre ITALEA, acesse o site oficial italeapiemonte.com ou entre em contato por info@italeapiemonte.com

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Guilherme Andriolo

Nascido em 2005 em Santa Cruz do Sul, ingressou como estagiário no Portal Gaz logo no primeiro semestre de faculdade e desde então auxilia na produção de conteúdos multimídia.

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Guilherme Andriolo

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