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Marcas da enchente

Há um ano não sabíamos direito o que estava acontecendo. Víamos a água subir e levar tudo pela frente. Tudo era tão próximo, mas não parecia real. Até então, a referência era 1941. Tínhamos exemplos de fenômenos parecidos longe daqui, que nos deixavam atônitos na frente das telas. Mas em abril e maio de 2024 era diferente. A enchente tirava amigos de casa, isolava famílias e mostrava a fragilidade de tudo aquilo que julgávamos indestrutível. E não se refere apenas a prédios ou estradas que desapareceram em minutos. Foi uma tragédia que trouxe lições.

Diante do sofrimento alheio, ganharam força iniciativas pela reconstrução. Gente de todos os cantos se uniu para ajudar e foi capaz de gerar grandes transformações. Cenas e iniciativas com esse propósito viralizaram mostrando que ainda há esperança e solidariedade. Mas como tudo tem dois lados, na tragédia não foi diferente. Quando uns juntavam os cacos para seguir em frente, outros tentavam tirar vantagem, como se viu. Mas os piores foram aqueles que sem qualquer constrangimento, vergonha ou responsabilidade entraram em ação para atacar quem ajudou, descredibilizar os que entendem do assunto e ainda se achar no direito de difundir inverdades. As mesmas redes sociais que uniram viraram canal para propagar fakes. E aí, quase tudo se perdeu.

A tragédia climática confirmou que meio ambiente e mudanças climáticas são coisa séria, que é preciso, sim, fazer algo antes que seja tarde. Entre 1941, quando a grande enchente assolou os gaúchos, e 2024 foram mais de 80 anos. Mas possivelmente não vamos levar mais 80 anos para ver a cena se repetir. Estudos mostram que os gaúchos enfrentaram o maior desastre natural da história há um ano com 2,4 milhões de pessoas afetadas em 478 municípios e 183 mortes, além de prejuízos bilionários.

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Globalmente as temperaturas aumentam a níveis alarmantes. Árvores caem, ruas são impermeabilizadas a todo instante. O homem cria barreiras. Em casa produzimos lixo, muito lixo. Os investimentos em ações preventivas são baixos e o compromisso com a causa menor ainda. Os ecochatos tinham e seguem com razão. Foram desacreditados, mas não desistem. Cuidar do meio ambiente é dever constitucional – sim, está lá no artigo 225. O enunciado é breve, mas diz que todos têm direito ao meio ambiente equilibrado e acrescenta que o poder público e a coletividade têm o dever de preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

O ESG está na moda como uma credencial que demonstra o olhar das grandes corporações para a causa. Mais do que marketing verde, como já disseram, é olhar para o futuro e pensar na própria sobrevivência. A enchente mostrou que negócios, mesmo os mais sólidos, podem desaparecer rapidamente. O mesmo vale para gestores públicos, para mim e para você, caro leitor. Possivelmente não conseguiremos evitar, mas podemos reduzir as consequências.

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Dejair Machado de Oliveira é natural de Cachoeira do Sul (RS), onde iniciou a carreira jornalística em 2000, no Jornal O Correio, atuando nas editorias de geral, rural e política. Entre 2003 e 2005 respondeu pela edição geral do Jornal de Candelária, em Candelária, até transferir-se para a Gazeta do Sul onde teve passagem pelas editorias de geral, agronegócio, economia e política. Por cerca de uma década dedicou-se à produção e edição de conteúdo para os cadernos especiais da Gazeta do Sul atendendo clientes de segmentos como comércio, indústria e prestação de serviços. Atualmente, é editor-executivo da Gazeta do Sul, encarregado de projetos estratégicos na empresa, gestão de equipes e edição do jornal impresso diário. Além da carreira jornalística, é advogado inscrito na OAB/RS sob o número 127.203 e exerce a profissão em escritório atendendo casos na área Cível, Família, Imobiliária e Empresarial. É membro da Comissão Especial de Proteção de Dados e Privacidade da subseção da OAB de Santa Cruz do Sul, com trabalhos relacionados à Lei Geral de Proteção de Dados.

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