Essa época do ano é rica em lembranças e simbolismos sociais e religiosos. É natural que advenham memórias, algumas específicas, outras atemporais, e que contemplam eventos pessoais extraordinários.

Muitas árvores de Natal montei sob a liderança de minha mãe, exemplo familiar de fé e religiosidade. Algumas eram decoradas em modo bem modesto, a exemplo da utilização de chumaços de algodão, imitando flocos de neve.

Improvisávamos velas coloridas e acesas, em temerário equilíbrio nos galhos do pinheirinho, acompanhadas de bolas coloridas, metade das quais logo perdidas em quedas livres e quebradiças.

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Todavia, exemplo de resistência era o tradicional presépio. Estavam todos lá, Maria, José, Jesus, os bichos, e os reis magos Belchior, Baltazar e Gaspar. Todos “envelhecidos” face ao confinamento de 12 meses, mas resistentes!

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Outra lembrança natalina inesquecível ocorreu em nossa rua (São José), no pátio da residência da família do vizinho Bruno Franke (1923–2001), relevante funcionário da fumageira Souza Cruz e vereador local (1973–1976).

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Durante muito tempo, a família Franke cedeu a imensa garagem (porão) da sua casa para cultos semanais, como uma extensão da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana local. Cruz, púlpito, cadeiras, hinários, tudo presente e o que fosse necessário e simbólico. Nos dias de culto, sempre lotada pela vizinhança.

No Natal de 1964, foi organizado um presépio vivo no jardim da casa, sob os enormes pinheiros ingleses. Os atores, éramos crianças, possivelmente em torno de 7 e 8 anos de idade, vestidos de acordo com as roupas típicas da época de Jesus e sua região.

Sob uma cabana de palhas de santa-fé, ao lado de Maria e José, na manjedoura estava o menino Jesus, representado por um bebê de verdade, Henrique Franke, então com 6 meses de idade!

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Ali também estavam os bichos, algumas ovelhas, um terneiro e um jumento, verdadeiros, vivos, parados junto à cabana. O que exigia alguns cuidados com o bebê e os demais presentes.

Esse evento se tornou inesquecível para mim por uma razão adicional, para além do momento natalino e alegre. O inquieto burrico me deu um coice, na altura do peito, não a ponto de eu cair, mas de ficar ofegante e com falta de ar.

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Resisti e cumpri minha função no presépio. Ainda que tenha sido um susto enorme e doloroso instante, não fiquei chateado com o burrico. Ele devia ter tido suas razões para não entrar no clima festivo daquele presépio vivo.

Aliás, nos dias de hoje, por razões diversas e personalíssimas, às vezes não “entrar no clima” pode acontecer conosco. Mas podemos evitar os coices. Logo, desejo a todos um tranquilo e feliz Natal!

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Astor Wartchow

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Astor Wartchow

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