Colunistas

Merecida homenagem ao folclore

Em 22 de agosto, o mundo celebra o Dia Internacional do Folclore. Já manifestei, em outra crônica, que não sou muito afeito a essa coisa de dia de tudo; no entanto, lembrar especialmente o folclore se justifica por inteiro. No folclore reside a plenitude da alma de um povo. A Unesco alerta que é papel das comunidades administrar sua herança folclórica, porque o progresso e suas consequências podem enriquecer uma cultura ou destruí-la para sempre.

Os elementos folclóricos nascem de baixo para cima, florescem com naturalidade, não são ações impositivas, criadas por leis governamentais. O folclore é cultura de origem popular, normalmente vinculado a pessoas simples, muitas vezes sem cultura formal, mas que vivem essas histórias de forma intensa e apaixonada. O berço está no universo interiorano, que desde sempre foi reduto da simplicidade, das crenças sem muitas indagações.

LEIA TAMBÉM: Medicina à moda antiga

Publicidade

A urbanização em grande escala contribui para o apagamento de várias dessas manifestações. Mesmo convivendo com elas, na sua procedência original, as pessoas, quando vêm morar na cidade, começam a abandonar e até esquecer esse legado por tanto tempo cultivado e preservado por seus ancestrais. Costumes herdados dos antepassados aos poucos se esvaem, se apagam.

É meritório manter a tradição, que não deve ser entendida como culto ou reverência ao passado, mas como forma de preservação, de dizer adiante os conhecimentos essenciais que essas histórias representaram para a consolidação de uma cultura. Tradição, ao contrário do que muitos pensam, não remete ao passado, remete ao futuro.

LEIA TAMBÉM: A maior invenção

Publicidade

Para compreender um povo, impõe-se olhar para as manifestações de sua cultura popular. Na sua origem, folclore é traduzido como sabedoria popular, aquilo que o povo (folk) faz. Não se constitui em oposição à cultura formal, escolar, acadêmica. As duas formas podem conviver harmonicamente, uma não é superior à outra, as duas são diferentes, entretanto se complementam e permitem a plena paz.

O Brasil é um reduto riquíssimo do folclore. Histórias já existentes entre os indígenas, outras tantas trazidas pelos escravos africanos, outras mais trazidas pelos imigrantes europeus, por vezes se contaminando, construíram um vasto e fabuloso conjunto de saberes populares. Luís da Câmara Cascudo deixou extraordinários estudos e pesquisas sobre o tema. No Rio Grande do Sul, Paixão Côrtes fez um exaustivo trabalho, resultando também em valiosa herança. Só para ficar em dois nomes relevantes.

LEIA TAMBÉM: Frases protocolares

Publicidade

O papel dos folcloristas passa por um olhar crítico, mas também pela sensibilidade; eles sentem e sabem o que recolher e guardar. Sabem ouvir, sabem discernir. Uma das características basais do folclore é a tradicionalidade, que remete à procura e à preservação das raízes. Para o folclore, a tradição oral assume grande relevância. Feita a escuta, cabe o registro escrito.

Raras devem ser as pessoas que nunca tiveram contato com algum dos elementos que compõem o folclore: lendas, provérbios, danças, músicas, usos, costumes, crendices, brinquedos, brincadeiras, festas populares, entre tantos outros. Histórias em que figuram o Saci Pererê, o Boitatá, a Mula sem Cabeça, o Negrinho do Pastoreio, são muitas que habitam a alma brasileira.

Da minha infância, guardo a apavorante figura do Lobisomem. Um vizinho nosso garantia que ele rondava, em noite de lua cheia, os espaços onde, durante o dia, esbaldávamos a nossa alegria infantil. Só aquele vizinho via o fantasma, mas este fez morada definitiva em meu coração. Hoje tenho certeza: o Lobisomem existe!

Publicidade

LEIA MAIS TEXTOS DE ELENOR SCHNEIDER

Guilherme Andriolo

Nascido em 2005 em Santa Cruz do Sul, ingressou como estagiário no Portal Gaz logo no primeiro semestre de faculdade e desde então auxilia na produção de conteúdos multimídia.

Share
Published by
Guilherme Andriolo

This website uses cookies.