Merenda Reale transformou-se em um momento de exibição de status e requinte
Era um ritual histórico que nasceu em Turim, no século 18, quando a aristocracia fazia uma pausa elegante entre o almoço e o jantar para saborear o chocolate quente – conhecido como “a bebida dos deuses” – acompanhado por delícias como os baci di dama, biscoitinhos de avelã unidos por chocolate, delicados como um beijo; os torcetti, argolinhas crocantes levemente açucaradas; as lingue di gatto, finíssimas e amanteigadas, que derretem na boca; os canestrelli, em forma de flor e polvilhados com açúcar; e os savoiardi, alongados, leves e porosos, criados na própria corte de Saboia. Um momento de prazer e refinamento que se transformou em símbolo da cultura sabauda.
O termo “sabauda” remete à Casa de Saboia, uma das dinastias mais antigas do mundo, que governou o Piemonte por séculos e teve papel central na unificação da Itália. Turim, inclusive, foi a primeira capital da Itália unificada e ainda hoje guarda esse esplendor: seus palácios reais, magnificamente preservados, reluzem como ouro e testemunham a grandeza de uma época que marcou a história do país.
E essa magnificência não se limitava apenas à política e à arquitetura. A corte de Turim, especialmente no século 18, era centro de poder, inovação cultural e refinamento. Uma sociedade baseada nos bons costumes e na etiqueta, buscando sempre estar à altura do rei. Pela sua proximidade geográfica e política com a França, a cultura sabauda adquiriu muitos dos mesmos hábitos que os vizinhos: o gosto pela confeitaria requintada, pelo chocolate e pelas bebidas alcoólicas aromatizadas com o vermouth. Outro exemplo é a Merenda Reale, que transformou a comida em um momento de exibição de status e requinte.
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Na versão oitocentista da Merenda Reale, o chocolate quente foi substituído pelo Bicerin, uma bebida típica de Turim feita com chocolate, café e creme, servida em camadas em um copo. A regra é: jamais misturar os ingredientes. O objetivo é sentir o sabor de cada camada se misturando dentro da boca, dando uma sensação de acolhimento. Perfeita para se esquentar em dias de inverno.
E se você deseja viver uma “experiência aristocrática”, é possível! Te convido a visitar os cafés históricos de Turim, localizados no centro da cidade. Verdadeiros baús do passado, onde se pode experimentar a história culinária da região. Além disso, os cafés sempre foram espaços democráticos: mesmo sendo Turim a casa da corte, entre as suas paredes havia a liberdade de expressão. Eram pontos de encontro entre artistas, intelectuais e políticos. Além disso, as mulheres encontravam sua voz e podiam se expressar. Em uma mesa, era possível encontrar um nobre, e na outra, um operário. Sem discriminação. Uma importância cultural em nível europeu. Hoje, a Associação dos Cafés Históricos conserva este patrimônio cultural.
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Fundado em 1884, é famoso em todo o mundo por ter inventado, em 1939, o Pinguino, o primeiro sorvete no palito da história, envolvido de chocolate, permitindo que o sorvete não se derretesse tão rapidamente. Uma invenção que possibilitou que as pessoas degustassem seus gelatos enquanto faziam um passeio pela cidade. Ainda hoje serve chocolate tradicional e sorvetes artesanais, em uma das praças mais encantadoras da cidade.
Desde 1927, combina elegância e modernidade. Oferece confeitaria sofisticada que reinterpreta a tradição piemontesa com um toque contemporâneo.
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Fundado em 1889, possui decoração boêmia e foi frequentado por intelectuais como Cesare Pavese, escritor e poeta italiano de grande relevância do período neorrealista. Além do chocolate quente e sobremesas tradicionais, também serve vermutes históricos, bebida servida pela primeira vez em Turim no século 18 e que, ao longo do tempo, tornou-se símbolo da cidade e do aperitivo italiano.
Aberto desde 1780, foi o café preferido dos intelectuais e políticos do Risorgimento: o Conde Cavour, primeiro-ministro do Reino da Itália, era cliente assíduo. É famoso pelo Bicerin, mas sua especialidade é o sorvete de gianduja, feito com chocolate e avelãs piemontesas, herança da era napoleônica.
Símbolo de sofisticação, desde 1875 impressiona visitantes por seus interiores em estilo Art Nouveau e por suas pralinés, pequenos bombons com casca crocante e recheio cremoso.
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Na década de 1920, o espaço de uma mercearia de 1892 foi transformado em uma moderna torrefazione (casa de torra de café). Hoje é uma casa de chá especial: cada infusão é preparada na hora, com bules e utensílios que respeitam as tradições de origem de cada variedade.
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No meu dia a dia, sinto-me privilegiada por poder frequentar esses recintos que preservam tanta beleza e cultura. O mais fascinante é que cada café histórico guarda sua própria personalidade, história e atmosfera, tornando cada visita uma experiência singular. Entrar nesses lugares é saborear Turim com todos os sentidos e, ao mesmo tempo, fazer uma viagem no tempo. Eles continuam vivos no cotidiano da cidade: são ponto de encontro de clientes fiéis, torineses habitués, e também destino irresistível para turistas apaixonados por história, arte e cultura.
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