Colunistas

Minúcias – Parte 2

Meu filho Rudolf Genro Gessinger, advogado e proprietário rural, observou com muita acuidade coisas que nem todos conhecem. Dei abrigo a ele na minha coluna da Gazeta, resta a ele agora procurar seu espaço:

“Entre outros exemplos que se poderia dar, cada profissional do campo – incluindo o patrão – era responsável por um certo e curto repertório de tarefas. Não que sobrasse mão de obra, pois o êxodo rural, que progride desde a década de 1960, encoraja cada vez mais campeiros a cambiar o largo dos campos pelos bretes da cidade. Como reflexo desse movimento, os ranchos e as pequenas estâncias foram desaparecendo, dando lugar a grandes áreas de poucos donos.

LEIA TAMBÉM: As minúcias do nosso Estado

Publicidade

A gestão sobre essas grandes áreas não era tão rígida há 20 anos – e, quanto mais para trás, menos ainda –, pois muitas tarefas eram delegadas sem critérios bem definidos e não havia um controle preciso sobre o que exatamente estava acontecendo numa estância. Entre faltas e excessos, as coisas corriam frouxo, principalmente para quem não tinha financiamento para pagar, e, se tropa, rebanho e manada eram considerados ‘gordos e sãos de lombo’, estava tudo certo.

Pode-se dizer que as relações de trabalho eram muito mais maleáveis em todos os sentidos. Os filhos do capataz nem bem largavam a teta e já saíam campo a fora. Lidas rápidas e menos brutas, como buscar as vacas de leite de manhã, não raro eram feitas por um piá de 6 anos, sozinho, que depois pegava seu transporte na porteira para ir para a aula. Era sua forma de ajudar a família, pois encurtava o serviço do pai. A remuneração poderia ser toda in natura, e não se enxergava problema nenhum nisso, 20 anos atrás.

LEIA TAMBÉM: Santiago e outras prosas

Publicidade

Na época da tosquia, não era incomum que profissionais – que, assim como no caso do alambrador, não necessariamente eram peões – trabalhassem ‘pela boia’ e por alguns pelegos cada um, os quais eles mesmos lavavam na sanga depois da lida. Os patrões não tinham tanto receio de problemas trabalhistas 20 anos atrás: o empregado que batesse às portas da Justiça do Trabalho podia desistir de conseguir serviço em toda a região. Espalhava-se ligeiro uma lista negra não escrita.

Tenho notado que, ao longo dos últimos 20 anos, a realidade do campo, enquanto lugar de trabalho, tem abandonado padrões seculares para adotar, como tinha antevisto Pedro Ortaça, uma postura de ambiente profissional, no qual se busca aumentar a produção com planejamento, controle e otimização em cada uma das etapas da cadeia produtiva, buscando a maximização dos resultados, tal qual ocorre numa empresa na cidade.”

LEIA MAIS TEXTOS DE RUY GESSINGER

Publicidade

Guilherme Andriolo

Nascido em 2005 em Santa Cruz do Sul, ingressou como estagiário no Portal Gaz logo no primeiro semestre de faculdade e desde então auxilia na produção de conteúdos multimídia.

Share
Published by
Guilherme Andriolo

This website uses cookies.