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Mulheres que trabalham e inspiram os filhos

A antiga imagem da mãe que fica em casa cuidando de seus filhos enquanto o marido trabalha praticamente está extinta, como bem sabemos. Nos dias de hoje, as mulheres trabalham tanto quanto os homens – ou até mais. E, com isso, outra antiga tradição também começa a mudar. A expressão “seguiu os passos do pai” em alguns casos tornou-se “seguiu os passos da mãe”, em profissões que variam de dentistas até os que, por influência materna, decidiram viver no mundo das artes.
O músico Guillermo Calvin hoje se apresenta por todo o Estado. Na próxima quarta-feira, por exemplo, fará show aqui em Santa Cruz, no Espaço Camarim. Um dia depois, estará no palco em Porto Alegre. Sua rotina tem sido essa, carregando um violão e compondo suas canções. Mas a vida na estrada não é novidade para ele. Cresceu em camarins, vendo sua mãe, Pilly Calvin, viver uma agitada rotina de atriz. “Ela cuidava de mim entre uma apresentação e outra. Eu também cheguei a atuar, nas aulas de teatro do colégio, mas meu interesse mesmo foi pela música”, afirma Guillermo.
Talvez esse interesse tenha surgido por um problema que Calvin enfrentava nessas aulas: sua mãe era a professora e, por isso, ele nunca ganhou o papel principal. “Ela dizia que eu seria beneficiado”, lamenta o jovem, para as risadas da mãe. Pilly ainda lembra de outro fato, quando seu filho lhe disse que não gostaria de seguir no teatro pois, nesse meio, ele “sempre seria o filho da Pilly Calvin”. Mesmo assim, Guillermo manteu-se na arte, sempre com total apoio da mãe. “Decidiu, a princípio, tocar bateria. Vivia batendo nas mesas. Mas eu disse que esse instrumento era muito difícil de carregar”, brinca a atriz.
Pilly, além de atriz, também é cantora. Participou de diversos musicais e, recentemente, subiu ao palco pela primeira vez com seu filho. “Foi uma apresentação de poesia e músicas, contando a história da mulher, em que o Guillermo participou. Foi muito bonito”, relembra. O apoio para continuar na música sempre existiu, e a atriz ressalta que ouviu muitas vezes ele arranhar as guitarras para chegar onde chegou. Agora, se diz uma mãe orgulhosa do resultado. “Sempre fui a fã número um, indo em todos os shows. Mas, quando Guillermo começou com a música autoral dele, eu disse: agora eu vi um artista no palco, não mais meu filho.”
Guillermo, que já tocou em grupos de hardcore, integrou por anos a banda Chá das Cinco. Hoje ele estuda produção musical e sonha em viver da arte, como sua mãe. “Trabalho em uma imobiliária, mas sempre tive a música em paralelo. A minha intenção é seguir fazendo o que amo, que é compor e tocar”, revela. Ele diz que agora enxerga o mercado musical de forma diferente e entende como viver disso. Com o apoio de sua mãe, vai continuar tentando ter a arte como vida. Quem sabe, nesse longo caminho, os dois Calvins não dividam mais uma vez o palco.

Modelo para a vida profissional

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O médico psiquiatra Vinícius Alves Moraes explica que a mulher atualmente incorporou vários papéis e hoje serve de modelo tanto para a maternidade quanto para a vida profissional. “Equilibrar esses papéis, principalmente nos anos iniciais da vida do filho, é um grande desafio, atenuado com o suporte do cônjuge e da família”, ressalta. Para ele, é importante as mães estarem junto pelo menos nos dois primeiros anos de vida do bebê, para um melhor desenvolvimento neuropsicomotor. Com isso, entende ser necessário algum distanciamento do trabalho, do lazer e das atividades sociais. “Nada que não possa ser retomado. A estrutura, sincronia e cumplicidade do casal aqui fazem toda a diferença.”
Moraes diz ter certeza de que as mães podem trabalhar e ser boas para seus filhos, inclusive inspirando-os como nos casos relatados nesta reportagem. “Biologicamente, é importante ter a mãe perto nos primeiros anos do filho. Mas, já na vida adulta, ter uma imagem materna trabalhadora é excelente em termos de modelagem e produtividade”, frisa o psiquiatra.

Mãe e filho dentistas dividem o consultório

Já o palco que Sônia e Gustavo Hermes dividem é outro: um consultório odontológico. Mãe e filho, que hoje trabalham juntos, começaram essa parceria há muitos anos, quando ela o levava ao trabalho após o colégio. “Sempre tive uma relação com essa vida. E, como era muito curioso e me dava bem com as atividades manuais, acabei seguindo exatamente os mesmos caminhos da minha mãe, com muito orgulho”, revela Gustavo. Mas essa decisão não veio desde criança, época em que, chegou a sentir medo de ir ao dentista. “Por algum tempo me interessei pela profissão do meu pai, que é engenheiro, mas aos poucos fui entrando no mundo da odontologia, sem pressão alguma da minha mãe.”
Da mesma forma que Pilly e Calvin, Sônia e Gustavo também se encontraram na sala de aula. Porém, nesta história a mãe ensinou o filho quando ele estava na faculdade. “Achei que seria delicado esse momento, mas foi uma experiência muito boa. Não trazíamos nada pra casa e isso funcionava”, explica. Mesmo assim, em todos os momentos da carreira de Gustavo, Sônia prontamente esteve disposta a ajudar, tornando a relação dos dois muito próxima. “Fui cada vez me envolvendo mais e, com isso, todos os dias a vida de dentista ficava melhor.”
O jovem, além de escolher a mesma profissão da mãe, também fez o mestrado na mesma área e hoje passa pelas mesmas dificuldades. “Nós precisamos estar sempre à disposição. Mas eu gosto dessa dúvida, de não saber o que me espera. São desafios e aprendizagens. Hoje entendo o que minha mãe falava quando dizia ganhar o dia após ajudar um paciente. É muito gratificante”, exalta Gustavo. Sônia serve de inspiração para ele, não só por suas habilidades técnicas, como também pela maneira humana com a qual ela lida com os pacientes. “Ela se entrega pela profissão, faz o que pode pelas pessoas, independente do lado financeiro.”
Trabalhando diariamente juntos, é de se esperar que existam alguns atritos. Porém, Gustavo nega: nunca teve problema, nem em casa, nem no trabalho. “É uma terapia conviver com ela. Se eu pudesse, passava todos os dias aqui com minha mãe”, revela. O mesmo pensa Sônia, que diz inclusive aprender coisas trabalhando com seu filho. “Vejo que ele ama a profissão e a exerce com respeito e responsabilidade. Sinto muito orgulho do Gustavo e sou muito feliz em trabalhar com ele”, conta a mãe.
E Sônia não inspirou apenas o filho a seguir na odontologia. Seu irmão, Daniel Renner, que é 14 anos mais jovem que ela, também acabou se tornando dentista. “Tive o receio de que o Gustavo estivesse seguindo esse rumo apenas por minha causa. Incentivei ele a buscar outras opções, mas foi na minha área que ele se encontrou e é feliz, então vamos seguir crescendo juntos”, celebra a mãe.

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