A vida melhorava para Marne Kilian Pazatto, de 43 anos. Recentemente o músico havia conseguido comprar uma casa para a família no Bairro Várzea, em Santa Cruz do Sul, e há uma semana um carro. Contente, ele saiu da residência pouco antes das 10 horas dessa quinta-feira para tocar em um evento ao ar livre, na Rua Ramiro Barcelos, no Centro. A Banda Som Livre, da qual fazia parte, seria a primeira a se apresentar no aniversário de 70 anos da Rádio Santa Cruz. Porém, um acidente durante a passagem de som interrompeu a carreira de 30 anos do guitarrista.
O tecladista e proprietário da banda, André Storch, conta que a apresentação estava marcada para as 10 horas, mas Marne se atrasou alguns minutos. “Ele chegou todo faceiro, brincando. Perguntou se eu não ia olhar o carro novo que havia comprado.” Após ligar os equipamentos, o guitarrista se apoiou em uma estrutura metálica da rampa de acesso ao prédio e sofreu um choque elétrico. “Parece que é o destino. Geralmente, ele usava guitarra sem fio, com transmissor. De repente, estava sem bateria e usou com cabo. Estava passando o som, se apoiou no corrimão e aconteceu.”
Marne chegou a ser reanimado e encaminhado por uma ambulância do Samu ao Hospital Santa Cruz (HSC), distante apenas uma quadra do local. No entanto, ele chegou sem vida à instituição. Storch não poupa elogios ao colega, conhecido por ser um excelente profissional no meio musical. “Neste ano que trabalhei com ele, não tivemos uma discussão. Marne cumpria tudo à risca, tirava as músicas. Agora ele havia conseguido uma casinha pra ele, tinha comprado um carro. Estava feliz da vida. Isso que me aperta, isso que dói, porque estava tudo encaminhadinho.”
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A morte é investigada pela 1ª Delegacia de Polícia de Santa Cruz. A delegada responsável, Ana Luisa Aita Pippi, disse que os agentes fizeram o levantamento do local e os equipamentos dos músicos foram recolhidos para análise no Instituto Geral de Perícias (IGP). “Instauramos o inquérito e já ouvimos algumas testemunhas. Possivelmente o IGP fará um levantamento da rede elétrica no prédio, até monte os equipamentos novamente. Somente com o resultado da necropsia e da perícia vamos entender a real causa da morte.”
O velório de Marne Kilian Pazatto foi realizado na Capela da Funerária Halmenschlager, junto ao Cemitério Ecumênico da Paz Eterna, em Santa Cruz do Sul. O sepultamento aconteceu hoje, às 10h30, no mesmo local.
Marne Kilian Pazatto, faleceu aos 43 anos
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Engenheiro diz que equipamento evita os choques
O professor Fabricio Antonio Egert, coordenador do curso de Engenharia Elétrica da Unisc, explica que o choque é justamente o efeito da corrente elétrica pela passagem através do organismo. Ele explica que uma descarga de 30 miliampéres (mA) já pode matar uma pessoa.
No caso da morte de Marne Pazzato, Egert pondera que diversos fatores precisam ser observados e somente a perícia poderá trazer os esclarecimentos necessários. “É muito relativo e pode acontecer de várias formas. Fato é que um dos dois estava com problema. Ou o corrimão estava energizado e a guitarra serviu de caminho, ou o instrumento que ele estava usando estava energizado e o corrimão serviu de caminho.”
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De acordo com o professor, existe um equipamento no mercado que fornece proteção contra os choques. Denominado de Dispositivo Diferencial Residual, ou DR, ele fica posicionado entre a fonte e a tomada e monitora a corrente elétrica. “Se o DR detectar que a diferença entre a corrente que sai e a corrente que voltou é maior que 30 miliampéres, ele entende que há uma fuga de corrente e isso pode estar passando por uma pessoa. Então, automaticamente, ele desarma”, explica.
Na maioria dos casos, a implantação do equipamento esbarra nos custos. O DR mais barato custa na faixa de R$ 150 e as instalações acabam sendo executadas somente com disjuntores simples. “Se houvesse uma fiscalização mais efetiva, a falta do DR seria apontada, porque a lei exige o equipamento. O que acontece é que as instalações não são fiscalizadas.”
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