Na contação de histórias, pessoas se aproximam e compartilham momentos únicos, de muito aprendizado e conhecimento
Ela não planejava uma profissão na área. Sequer sonhava ir tão longe. Mas os caminhos levaram a contadora de histórias Léla Mayer a viver uma paixão marcada pelo improvável. Como se fosse um conto de fantasia e muita imaginação, abraçou as oportunidades de encantar e inspirar. E foi justamente desse talento por fazer imaginar que a escritora realizou “um sonho que nem havia ousado sonhar”.
Em junho, a neta de um galego levou o Brasil na mala para alcançar o solo que habitava seu imaginário desde sempre: a Galícia, na Espanha. Um pouco desse encantamento, aliás, ganhou forma no livro de sua autoria, A saia da Carolina, que conta sobre esse amor, de forma poética, brincando com o clássico do cancioneiro popular daquela região, chamado A Carolina.
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Assim, levada pela emoção e pela força dos laços ancestrais, no 13º Encontro Internacional de Contadores de Histórias Sete Falares, Léla criou e viveu memórias, além de experimentar a alegria imensa da vivência internacional. “Uma linda celebração dessa trajetória e, também, o início de outras”, como define o que parece ser desafiador traduzir.
Quando contatou os organizadores do evento pela primeira vez, Léla Mayer desejava saber apenas a data de realização, pois planejava participar como espectadora. A partir das conversas, no entanto, surgiu o convite: participar do festival como narradora, representando o Brasil.
No mês de junho, ao longo de quatro noites, a contadora de histórias apresentou O casamento de Mané Bocó, de Ricardo Azevedo; Contos de enganar a morte, do mesmo autor; A Lenda da Lagoa Encantada, folclore do Rio Grande do Sul; O homem mais mentiroso do mundo, de Raquel Grabauska; e A mulher fofoqueira, de Andrea Cozzi.
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“A arte de contar histórias é esse lugar de encontro com o imaginário e com o que nos faz humanos, que é a linguagem. A gente conta histórias para partilhar o tempo, para estar junto com outras pessoas, exercita a atenção e valoriza o tempo presente, algo cada vez mais raro em época de tantas virtualidades e correrias”, afirma.
No decorrer da viagem, Léla conheceu muita gente, fez amizades e ainda gravou vídeo ao lado de Maria Faltri, cantora da música que inspirou sua própria história: A saia da Carolina. “Quando digo que realizo sonhos que não ousei sonhar, é sobre isso. Sobre estar em lugares incríveis com pessoas que habitavam apenas um imaginário afetivo e que hoje chamo de amigos.”
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O Encontro Internacional de Contadores de Histórias Sete Falares, na Galícia, é realizado desde 2012, tendo sido cancelado apenas em 2020, devido à pandemia do coronavírus. O festival é organizado pelo Grupo Pavís Pavós, numa parceria com o Concello de Pontevedra.
O nome, por sua vez, foi escolhido para evocar a ideia de um encontro de múltiplas vozes, originárias de diferentes lugares. O número sete é usado no sentido simbólico, resgatando uma expressão vinda da oralidade: vozes oriundas dos sete mares.
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Neste ano, o Sete Falares ocorreu entre os dias 8 e 15 de junho, na cidade de Pontevedra, região da Galícia, no noroeste da Espanha. Participaram 12 contadores de histórias, representando diferentes culturas.
Uma de suas particularidades é o público-alvo: os adultos. “É algo muito diferente dos formatos de festivais que participamos no Brasil, geralmente voltados às crianças”, conta Léla. As narrações, portanto, ocorrem em diferentes pontos da cidade, quase sempre à noite.
“No sábado acontece um circuito de histórias noturno, que é algo muito bonito. Cada narrador recebe, por rodada, um público de 50 pessoas, para narrar uma história de dez minutos”, explica. A partir do encontro, cada grupo participa de quatro apresentações e é conduzido de um ponto a outro da cidade por um monitor do evento.
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Valéria Mayer, a Léla, é nome conhecido na cena literária santa-cruzense. Começou a trajetória como contadora de histórias em 2009, após participar de um curso no Serviço Social do Comércio (Sesc) de Santa Cruz do Sul. De início, segundo conta, não havia a pretensão de se tornar profissional na área. “Era apenas uma curiosidade, que virou paixão, que me fez pesquisadora dessa arte.” Depois, ainda entrou para o rol de escritores. “Sem a Léla contadora de histórias, talvez não existisse a Léla escritora.”
Sobre a trajetória, obra do acaso, ela diz: “É surreal pensar que, a partir de um curso despretensioso, fiz tantos amigos, viajei a tantos lugares, conheci pessoas incríveis que só habitavam meu imaginário de tiete literária. Me tornei escritora, visitei escolas, feiras, festas, festivais, eventos, livrarias.”
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Integrante da cadeira número 11 da Academia de Letras de Santa Cruz do Sul, Léla lembra que o amor pelas histórias já foi alimentado pelos pais, na infância. Depois, o curso, que era apenas para tornar os sábados mais leves, teve papel fundamental para o desenrolar desse grande conto chamado vida.
Além das experiências no mundo literário, é fisioterapeuta e pedagoga, com mestrado em Educação. Foi vice-presidente administrativa da Associação Gaúcha de Escritores (Ages) por duas gestões. Tem dois livros infantis publicados, Não grita, Tião!! e A saia da Carolina, além de participação em várias antologias.
“Num mundo digital, a leitura é um desafio não pela virtualidade, mas porque o modo como consolidamos a entrada do virtual nas nossas vidas fragmentou nossa atenção de tal modo que qualquer experiência mais longa tende a já se tornar desinteressante. Mas essa aceleração no tempo tem nos adoecido. A pausa para uma leitura, para a escuta de uma história torna-se fundamental para que possamos ‘aterrar’ novamente, para que possamos consolidar nossas conexões, organizar nossas emoções, nossos sentimentos, nosso estar junto nesse mundo. Ouvir histórias literárias, conversar sobre literatura, é o melhor antídoto às fake news, pois é reconhecendo o limite entre o que é real do que é ficcional que a gente consegue interpretar melhor a vida.“
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