No próximo dia 17 de dezembro, celebramos os 120 anos de nascimento de Erico Verissimo (1905-1975). Filho de fazendeiros decadentes, arruinados, deixou sua Cruz Alta para estudar em Porto Alegre, visando ao curso de Medicina. Por falta de recursos, retornou à sua terra, empregando-se em armazém, banco e associou-se a uma farmácia que também foi à falência. Voltou a Porto Alegre e sem demora começou a trabalhar como revisor e tradutor na Editora Globo.
Casou-se com Mafalda e tiveram os filhos Clarissa e Luiz Fernando, recentemente falecido. Era um homem culto, viajava com frequência, chegou a ser professor em universidade nos Estados Unidos. Quando o escritor começou a despontar e deslanchar, saiu da Editora Globo e passou a cuidar de sua carreira literária, que acabou por elevá-lo ao mais alto patamar da literatura brasileira.
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Ao publicar seus primeiros romances, o Modernismo brasileiro vivia o apogeu da produção do momento, com o consagrado denominado romance de 30. Afloraram nomes poderosos da nossa literatura: Graciliano Ramos, Jorge Amado, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, José Américo de Almeida, expondo com olhar crítico as vidas sofridas de personagens subjugadas pelas agruras do interior.
Podemos incluir nesse grupo ao menos dois autores gaúchos: Cyro Martins e Dyonélio Machado. Cyro é autor de romances que mostram o gaúcho decadente, empobrecido, expulso do campo, sobrevivendo na miséria suburbana. Vale a pena ler ao menos Porteira fechada. E Dyonélio Machado escreveu Os ratos, em que Naziazeno, funcionário público, de baixo salário, recebe o ultimato do leiteiro que lhe deu vinte e quatro horas para saldar sua dívida, ou o leite não mais seria entregue.
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Enquanto esse naipe de escritores se dedicava a expor os graves problemas sociais do país, particularmente do Nordeste, Erico, na primeira fase de sua obra, se ocupava de pequenos dramas burgueses, de problemas enfrentados pela classe média urbana, em novelas que desenvolvem questões de amor, procurando saídas em busca de um final feliz. Por essa trilha romântica, a crítica do resto do país praticamente o ignorava, considerava-o um escritor menor. Dessa fase, recomendo muito a leitura de Olhai os lírios do campo, romance que permanece vivo na minha memória.
O ápice da carreira vem a partir da segunda fase. Em 1949, começou a publicar O tempo e o vento, obra realmente marcante. Está dividida em três partes: O Continente (I e II), O Retrato (I e II) e O Arquipélago (I, II e III). Se não tiver fôlego para leituras mais extensas, recomendo ao menos os dois tomos de O Continente, fascinantes e imperdíveis. Revela-se aí o grande narrador em que Erico se transformou. Personagens como o capitão Rodrigo, Ana Terra, Bibiana, Maria Valéria, Pedro Missioneiro, o surpreendente imigrante alemão, doutor Carl Winter, jamais serão esquecidas por quem se deparou com elas.
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O tempo e o vento enfoca, na verdade, em forma de romance, momentos decisivos da história do Rio Grande do Sul, com a formação do seu povo, com as guerras de fronteira, os conflitos missioneiros, a Revolução Federalista, só para citar alguns. Caberiam muito mais informações sobre quem deu status de grandeza à literatura gaúcha. E, se ainda posso recomendar mais uma obra, fico com Incidente em Antares, narrativa bem fictícia, mas que esconde uma grande visão crítica sobre a sociedade. Fica, assim, minha homenagem a Erico.
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