Ilustração gerada por inteligência artificial
Na mitologia grega, Narciso – filho do deus do rio Cefiso e da ninfa Liríope – era arrogante e vaidoso. Apaixonado pela própria imagem, rejeitou todos aqueles que eram atraídos pela sua beleza.
Pela maneira cruel com que tratava as pessoas que o amavam, Nêmesis, a deusa da vingança e da justiça, decidiu amaldiçoá-lo. Um dia, ao aproximar-se de um lago cristalino, ficou admirando-se no reflexo da água. Obcecado, recusou-se a sair e acabou morrendo.
Foi da fábula que nasceu o narcisismo, conceito psicológico que descreve o excesso de amor próprio. Tal mito nunca fez tanto sentido quanto no mundo atual. Ou melhor, no mundo digital.
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Outrora uma ferramenta para conectar pessoas, as redes sociais tornaram-se o lago cristalino, no qual centenas de Narcisos passam o dia expressando seu amor-próprio. E assim como na história grega, são cruéis e egoístas com aqueles que os seguem.
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Isso porque muitos usam seu poder (ou seja, o alcance das redes) da pior maneira possível. Mais recentemente, uma mulher (cujo nome não será divulgado para não gerar mais audiência, mas que se descreve como cristã, esposa e influencer) usou seus perfis para atacar vendedores de uma certa loja de calçados femininos em um shopping de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.
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O caso resultou na demissão de uma funcionária, que expôs a situação nas redes. E assim como Narciso, a história não terminou bem para a influenciadora, que precisou fechar seu perfil nas redes, enquanto a marca em questão está sendo atacada até o momento pela demissão injusta.
No entanto, há situações muito piores, que fogem da mitologia grega e são assustadoramente semelhantes à Divina Comédia, do escritor Dante Alighieri, na qual o próprio desce os nove círculos no inferno. À medida que ele progride, o inferno torna-se mais profundo e as punições ficam ainda mais graves. E o mesmo ocorre nas redes sociais.
Além dos perfis horríveis de adultização de crianças e adolescentes denunciados pelo youtuber Felca (Felipe Bressanim Pereira), há Narcisos que espalham informações falsas sobre saúde, política, religião e outros temas. Sem o mínimo de conhecimento do que estão falando, são tão cheios de amor-próprio que falam de maneira como se tivessem propriedade para tratar desses assuntos, sem se importar com o impacto negativo sobre o seu público.
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O que dizer de uma certa influenciadora que foi parar em uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre as bets (jogos de azar). Segundo a revista Piauí, tal ser humano recebe um percentual do lucro dos jogos a partir da perda de cada apostador influenciado por ela. Ainda assim, possui 53,9 milhões de seguidores.
Mas e quando os Narcisos vão parar na política? Não faltam políticos cheios de amor-próprio que sabem vender muito bem sua imagem nas redes sociais, produzindo publicações que cativam seus seguidores, sem necessidade de trabalhar em prol da população. Só querem gerar curtidas e engajamento, pois sabem que, em um mundo digital onde veneramos narcisistas, é o suficiente para serem eleitos.
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Como resolução para 2026, espero que possamos sair do Inferno de Dante e parar de venerar os Narcisos que tratam de maneira cruel aqueles que os admiram. Se quebrarmos a maldição e olhar além da beleza, vamos encontrar a verdadeira natureza desses seres: ocos e sem nada a agregar.
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