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O espírito da colmeia

Leonard Zelig é um desajustado. Ou melhor, era. Cansado de se sentir um peixe fora d’água em qualquer rio, ele desenvolve uma habilidade incomum para se proteger da solidão: absorve totalmente a personalidade, a identidade e até a aparência das pessoas com quem se relaciona.

Por exemplo: se estiver ao lado de intelectuais, Zelig se transforma em um homem de enorme cultura e pode falar quantos idiomas a situação exigir. Mas o que mais impressiona é a mudança física: quando Zelig – branco, magro e baixo – conversa com orientais, seu rosto ganha feições asiáticas; se o interlocutor for negro, em segundos a pele dele escurece e o cabelo encrespa; se for obeso, a barriga logo começa a inchar, e assim por diante.

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Leonard Zelig, naturalmente, jamais existiu. Ele é só o protagonista do filme homônimo de Woody Allen lançado em 1983, um “falso documentário” em tom de comédia sobre a vida desse insólito personagem. Mas certamente existe algo como um “espírito de Zelig”, uma tendência que Allen reconheceu na época: uma disposição para a massificação, para buscar um lugar no mundo através da identificação total com um grupo, seja qual for. Propensão mais exacerbada em alguns, menos em outros. E isso que nem havia internet e redes sociais em 1983.

Mas não deixa de ser uma estratégia arriscada. A fantástica aptidão que Zelig desenvolveu para ser aceito e amado lhe custou muito caro: ele não tem personalidade, não tem um “eu”. Acostumou-se a ser apenas o reflexo de quem está ao lado (mesmo se for um nazista). Quando se vê sozinho, sem ninguém para imitar, fica em estado de semiparalisia, por vezes quase como um vegetal. Ou, talvez, como uma abelha que se descobre abandonada em uma colmeia vazia. O que ela faria?

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