Os guris do interior já ajudavam seus pais na lavoura. Se não estivessem na escola, os menores eram levados à roça para ajudar em trabalhos leves, até para evitar que ficassem sozinhos em casa. Nada difícil, mas que trouxe um legado excepcional para o futuro. Essa piazada aprendeu que trabalhar nunca fez mal a ninguém.
Não havia guri que não tivesse uma funda pendurada no pescoço. Entre os amigos, sempre tinha aquele que se sobressaía na sua confecção. Era o caso do Fernandão. A primeira tarefa era procurar uma forquilha com madeira resistente. A borracha mais comum usada pelo Fernandão era de câmara de bicicleta ou de automóvel, mais rara. Era difícil ter alguém motorizado na vila. O pedaço de couro se conseguia com o sapateiro.
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No longo caminho a pé até a escola, poderia aparecer um pássaro maior ou mesmo uma pomba rola, um sabiá. Nem sempre se acertava no pássaro, mas a real intenção era matá-lo para comê-lo em casa, imposição da mãe. Matou, comeu. Essa era a regra.
Hoje confesso que jamais matei um bichinho. A dona Elzira, minha mãe, nunca permitiu. Na onda dos amigos, também arremessava as pedras contra os passarinhos. Na hora H, mirava um pouco para o lado a fim de não acertá-lo. Tinha que aguentar a gozação dos colegas.
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Toda vez que se jogava, aparecia o vizinho, um guri franzino, magrinho, inibido, que insistia em participar da brincadeira. Seu pedido era negado.
– Vai te criar, fedelho. Te manda daí! Vai plantar batata, guri!
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Quem sabe combinamos uma partida de bolita para hoje? Ora, ora, um futuro prefeito foi barrado em um simples jogo de clica! Que coisa!