O professor, escritor e poeta Mauro Klafke, da Academia de Letras de Santa Cruz do Sul
O leitor que percorrer as páginas do novo livro de Mauro Klafke vai encontrar sete narrativas que combinam deliberadamente biografia e ficção. Os personagens são escritores gaúchos, desde clássicos, como Erico Verissimo, Moacyr Scliar, Cyro Martins e Luiz Antonio de Assis Brasil, a integrantes da Academia de Letras de Santa Cruz do Sul, como Mauro Ulrich e Valquíria Ayres Garcia. O geógrafo Rogério Haesbaert da Costa também é lembrado, em uma seleção de nomes estabelecida, sobretudo, a partir de um sentimento: admiração.
É como homenagem a figuras que influenciaram sua vida intelectual e pessoal que O milagre das pequenas coisas deve ser visto, antes de tudo. Santa-cruzense residente em Gramado Xavier, Mauro Klafke não se propôs a fazer minibiografias ou algo semelhante (embora notas biográficas estejam presentes). Ele se baseou em fatos pontuais da vida desses autores para criar pequenos contos, explorar significados através da ficção.
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O episódio em questão pode ser a separação dos pais de Erico Verissimo – autor de O tempo e o vento – ou a visita de um pintor judeu à família de Moacyr Scliar, ainda na infância desse autor, no belo texto que abre O milagre das pequenas coisas. Quando, após um período como hóspede, o artista abandona a morada dos Scliar, deixa um presente para o pequeno Moacyr: uma tela valiosa que lhe permitirá, mais tarde, custear o curso de Medicina.
Ou pode ser a curiosidade de um Assis Brasil ainda adolescente pela história de Jacobina Maurer e dos Muckers, uma saga que resultaria, muitos anos depois, no romance Videiras de cristal. “Não mais esqueceu a história dessa mulher e, ao longo do tempo, incorporou elementos que seriam necessários para uma narrativa.”
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As coisas aconteceram da maneira como Mauro nos conta? Provavelmente não. Como ele mesmo diz, o que fez foi: “inventar uma vida que, com certeza, não é a deles, mas que poderia ter sido sua, pelo que conheço ou conheci dos mesmos. (…) E esta vida que criei, não sei se é deles ou é minha. Pode ser as duas coisas. De qualquer forma, trata-se simplesmente de admiração.”
Klafke recorre a uma imagem expressiva: a do paleontólogo que, a partir de um fóssil ou fragmento de osso, consegue reconstituir uma vida e representá-la, dar-lhe rosto, cores e respiração. Com uma boa dose de imaginação, há que se acrescentar. O que não deixa de ser um ofício milagroso, espantoso.
Também a partir de fragmentos, Mauro Klafke cria sua arte. Um mundo saído da imaginação que, a seu modo, mantém-se de pé.
O milagre das pequenas das coisas ainda não está disponível nas livrarias, mas isso deve ocorrer em breve. O livro tem 110 páginas e foi publicado pela editora Singram.
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Aos 72 anos, Mauro Klafke é um escritor com longa trajetória, tanto na poesia como na prosa. Tudo começou em 1983, com o lançamento do volume de poemas Baixo relevo. É integrante da Academia de Letras de Santa Cruz do Sul e já recebeu 25 prêmios literários.
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É mestre em Geografia pela Ufrgs e atuou como professor estadual e no Ensino Superior. Sua produção autoral soma quase 20 livros. Nordeste para salmos de viola, O sino e o galo, Uma história não oficial, Um copo de vinho para cantar e Apenas um jogo são alguns títulos – os três últimos lançados pela Editora Gazeta.
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Como não poderia deixar de ser, Klafke também é um contumaz e incorrigível leitor. Na sua residência em Gramado Xavier, na região serrana do Vale do Rio Pardo, guarda um acervo de aproximadamente 7 mil livros.
Participou ainda da série de antologias Nem te conto, publicada pela Editora Gazeta, com autores vinculados a Santa Cruz do Sul.
(Trecho de “História de Erico Verissimo: O pai que vai à revolução”)
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“Lia, com todo o ser, os romances que lhe pareciam intensos, criados por quem se dispunha a escrever o mundo e o inscrever em textos inteiros a que não podia faltar nada. E descobriu, nas histórias, uma coerência de poesia que não havia na vida real, desconexa, ilógica. Se a vida era atribulada, incompreensível, a vida do texto literário tinha de ter acabamento pela escrita incomparável. O texto era sempre uma vida acabada e, como percebeu, assim tinha de ser. Um mundo inteiriço que não se despedaça. O escritor era um criador cujo mundo saído de suas mãos e de suas palavras se mantinha em pé. Luminoso.“
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