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GAZ – Notícias de Santa Cruz do Sul e Região

O olho do dono é fundamental

Como eu ia dizendo, enquanto a fazenda tinha cerca de 2 mil hectares, eu ainda tinha algum tempo para percorrer os campos a cavalo, churrasquear à beira de uma sanga, sesteando sobre os pelegos, convidar Nico Fagundes, Nenito Sarturi,  Maria Luiza Benitez, Miguel Marques e demais artistas para intermináveis tertúlias, regadas a muito cordeiro, vinho e cerveja. Andar pelos campos, observando emas, jacus, veados, bugios, marrecas piadeiras, perdizes. Foi época em que participei, como compositor, de vários festivais e gravei dois CDs.  Mas as coisas mudam.

A idade começou a reclamar e os 550 km entre Porto Alegre e a fazenda a pesar. Minhas permanências na fazenda começaram a rarear. Chegava e eram muitas coisas acontecendo, despesas, problemas, imprevistos, vacas que não tinham mais o mesmo índice de prenhez, tratores quebrados, essas coisas.

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Sobreveio um temporal que danificou a sede e demais habitações da fazenda, além de detonar cercas e mangueiras. A duras penas reconstruí tudo.

Nesse decorrer, aceitei ser presidente do Sindicato Rural de Santiago, o que aumentou sobremaneira minhas tarefas. Ressalto que não recebia um pila por cumprir essa honraria. Resolvi comprar uma casa na cidade de Santiago, um primor com piscina e tudo, e trouxe meu filho Rudolf para estudar num colégio local.

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Decidi, então, acabar com as cabanhas de ovinos e de cavalos, ficando só com o gado geral e o rebanho de ovelhas. Mas o escritório de advocacia em Porto Alegre me tomava muito tempo e era, em realidade, o que me dava liquidez monetária.

Até que um dia, num domingo de madrugada, vinha com minha SW4 pela BR-290 e um carrinho saiu detrás de uma fila de caminhões em sentido inverso e deu de cara comigo, que vinha plácido e fagueiro. Só deu tempo de eu me escapar para o acostamento e parar no meio de um capoeiral, com o coração saltando pela boca. Incrível, eu vi, olho no olho, a morte me “tenteando”. Mas não foi minha hora. Mas tomei como um aviso.

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Defrontei-me, então, com o grave problema da sucessão familiar. Eu achei que não tinha direito de sacrificar Rudolf numa faculdade de menos prestígio só para cuidar da fazenda. Entendi como certo que ele fizesse uma excelente graduação e depois decidisse o seu rumo. 

Sinceridade? Eu estava perdendo a competitividade. Ia bem, mas não tinha mais aquele arrojo para as tecnologias que se impunham.

Na próxima, eu encerro esta série.

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