Cultura e Lazer

“O poder de ver o Adão Caetano é sentir o gosto da fome de liberdade”, diz Emílio Farias, ator de ‘Porongos’

Para o ator gaúcho Emílio Farias, o artista é um canal de forças capazes de gerar apreciação e provocar reflexão nas pessoas. E é esse poder de canalização que ele pretende trazer a Porongos, novo filme do diretor Diego Müller e do produtor Pablo Müller, responsáveis por InfiniMundo.

O longa-metragem narra a jornada dos Lanceiros Negros e o Massacre de Porongos, um dos episódios mais violentos da Revolução Farroupilha. Emílio interpreta Adão Caetano, que assume o fio condutor da história. Ele é um lanceiro que, além de lutar pela liberdade e pela dignidade, confronta as contradições dos líderes republicanos do Rio Grande do Sul e desvela a traição contra o grupo – formado principalmente por escravizados – que participou da guerra com a promessa de liberdade.

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Para Emílio, Adão Caetano representa um grito e uma enorme vontade sonora e física de liberdade e de humanização. “O poder de ver o Adão Caetano é sentir o gosto da fome da liberdade, é poder ansiar por isso. É ver um cara que vai fazer o que for preciso fazer para poder, nessa passagem ainda na Terra, encostar na liberdade dele, com as mãos dele, tornar a liberdade palpável para ele”, enfatizou o ator.

Seu envolvimento com o projeto começou em 2020. Durante a pandemia, os irmãos Müller apresentaram a proposta para o ator e o intuito de humanizar os personagens, sobretudo os ditos “heróis farroupilhas”. E Emílio viu a oportunidade não só de contar a história, mas de dar voz a um grupo que, para ele, segue abafado até hoje. “Agora vamos falar de seres humanos vivendo a Revolução Farroupilha, e não mais a fábula”, destacou.

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Cinco anos depois, o ator pôde finalmente usar as vestimentas de Adão Caetano e viver o personagem durante a primeira etapa de gravações, realizada entre os dias 11 de agosto e 13 de setembro, em Minas do Camaquã e Bagé. Teve a oportunidade de atuar ao lado de artistas com quem sempre trabalhou e colegas que estão juntos desde o início da trajetória.

“Estava todo mundo ali a fim de contar essa história com muita verdade. Isso foi muito gratificante. O Diego falou muito em construir esse filme com pessoas que se alimentam do mesmo universo e respiram o mesmo oxigênio do projeto”, salientou.

Emílio não esconde o entusiasmo em terminar a segunda etapa de filmagens, ainda sem previsão, para que o público – e ele próprio – finalmente veja o filme concluído. Destacou que as cenas que faltam são o ápice do filme, incluindo o Massacre de Porongos. “O filme merece ser finalizado. Temos um projeto muito bonito na mão.”

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Para o ator, não há dúvida: em breve, Porongos estará em exibição nos cinemas. “Vão estar os Lanceiros Negros na mesa das pessoas em 2026 para conversar, para falar sobre, para abrir esse assunto, para serem reconhecidos.”

Entrevista

Emílio Farias
Ator

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  • Gazeta – Como você descreve o seu papel em Porongos?
    Podemos pensar no Adão Caetano, primeiro pensando na Guerra Farroupilha, que é uma revolução que acabou estourando por fatores econômicos. E, no meio de toda essa batalha, nós tínhamos pessoas que lutavam pela dignidade de ser livre no mundo, que eram os Lanceiros Negros, que eram pessoas escravizadas, às quais foram prometidas liberdades e coisas caso se vencesse a guerra farroupilha. O poder de ver o Adão Caetano é sentir o gosto da fome de liberdade, é poder ansiar por isso, é ver um cara que vai fazer o que for preciso para poder, nessa passagem ainda na Terra, encostar na liberdade dele, com as mãos dele, tornar a liberdade palpável para ele.
  • Qual a importância de humanizar esses personagens históricos?
    Víamos muitas vezes no cinema figuras muito impostas, de uma realeza imposta, de uma realeza que todos estávamos segurando até há pouco, segurando. Eu falei: o que é isso? Eram seres humanos. E, trazendo eles para esse lugar de seres humanos, é onde podemos achar os defeitos das pessoas.
    Achando os defeitos dessas pessoas, nós também, sendo pessoas esclarecidas, que sabem que têm defeitos, nos conectamos com elas. E aí é onde a história acontece. É poder ver que nossos heróis tomaram péssimas decisões. Os nossos heróis traíram, sim. Essa coisa do herói é uma falácia. Essa coisa do herói é o que trouxe a sociedade até onde ela está. Junto com o Diego [Müller], nós tivemos um bom manejo para conseguirmos nos botar nesse lugar de seres humanos.
  • Qual foi o sentimento de estar nas filmagens, buscando trazer essa história para a luz?
    Achei incrível quando fiquei sabendo que o filme seria gravado para os lados de Minas de Camaquã e Bagé. É lá onde está o nosso Pampa. É muito bacana, enquanto ator, poder não só ser envolvido pela paisagem, mas ser envolvido pelo frio do lugar, ser envolvido pelo clima, pela vegetação. Isso é uma coisa que já vai te trazendo um estar naquele lugar, uma apropriação daquele espaço.
    E é um desafio muito grande, porque, querendo ou não, é uma equipe numerosa para lá e para cá, e assim vai. Bagé também é incrível, muito enriquecedor. Ao mesmo tempo, tem aquela coisa… Eu trago muito a palavra da Nise da Silveira, de que o ator consegue encostar na loucura e voltar. É uma coisa muito louca, porque, querendo ou não, eu e colegas pretos também gravamos dentro de senzalas. São coisas muito sensíveis, muito densas, que acabam nos atravessando. É incrível, pensando agora: o set não se desloca só de local, ele se desloca do nosso espaço e tempo, e acabamos nos vendo em outra época.
  • A expectativa é de que as gravações da próxima etapa aconteçam em Santa Cruz…
    Seria um prazer. Tive a oportunidade de visitar Santa Cruz no casamento de um amigo, o ator Saulo Aquino. E, nossa!, foi muito bonito. Santa Cruz é muito gostosa. Acho uma cidade com uma qualidade de vida incrível. Gosto disso. Penso que esse filme tem a oportunidade de mostrar o Rio Grande do Sul, sua extensão e beleza. Seria muito legal poder encerrar na cidade essas cenas que são muito fortes.
  • Espero que a nossa próxima conversa ocorra em breve, pessoalmente, aqui em Santa Cruz.
    Eu também espero. Como é bom poder conversar. Boas conversas fazem uma diferença total.

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Julian Kober

É jornalista de geral e atua na profissão há dez anos. Possui bacharel em jornalismo (Unisinos) e trabalhou em grupos de comunicação de diversas cidades do Rio Grande do Sul.

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Julian Kober

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