Completaram-se nessa quinta-feira, 11, 24 anos desde o dia 11 de setembro de 2001. Antes disso, a referência que eu tinha para esse ano era meu (talvez) filme preferido de todos os tempos, 2001: Uma Odisseia no Espaço. Lá nos anos 1960, os autores Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke imaginaram que a humanidade chegaria, no início deste milênio, a um patamar superior da evolução. Hoje só nos resta sorrir (sorriso meio amargo) diante de tanto otimismo.
2001 começa na Pré-História, na “aurora do homem”, mostrando como um grupo de primatas aprende a transformar ossos de animais em armas e ferramentas. Esse é um momento crucial, de avanço decisivo da inteligência técnica. E termina no espaço, com a nave terrestre Discovery na órbita de Júpiter, em missão de investigação de um estranho objeto alienígena.
No último ato, o astronauta David Bowman abandona sua forma humana após contato com a inteligência extraterrena, e renasce como um “filho das estrelas”. Presumimos que isso seria uma maravilha, pelo que deixa entender a cena final, embalada pela música pomposa de Richard Strauss. Pois representa também um instante decisivo, de suposta evolução, conectando-se ao que presenciamos no início da narrativa.
Publicidade
Então saímos da expectativa e chegamos ao 2001 da realidade. Sem naves subindo para o céu, e sim caindo sobre as torres do World Trade Center (que pareciam tão sólidas e monolíticas quanto o artefato do filme de Kubrick). O milênio começa regido pela violência extrema e sob esse signo continuamos, em um clima sempre belicoso. É desanimador acompanhar as notícias da política no mundo.
Você não tem a sensação de que estamos retrocedendo? Eu às vezes tenho. E bem no sentido oposto ao filme 2001. Os hominídeos no primeiro ato aprendem a usar objetos aleatórios como se fossem, primeiro, armas e depois ferramentas diversas. O sapiens de hoje passou a usar suas ferramentas tecnológicas, sobretudo de informação, como armas. Essa é sua grande utilidade, num mundo onde a vontade política passa a se traduzir em imposição pela força.
E há quem aplauda a retórica belicista, porque as bombas não estão caindo na sua vizinhança ou sobre o seu teto – ainda. A facilidade para justificar e “entender” a violência política reflete uma visão de mundo que a aceita não só como natural, mas desejável.
Publicidade
Resgatar uma perspectiva otimista passa, em primeiro lugar, por parar de fingir que a trilha das armas pode trazer algo melhor do que catástrofe.
LEIA MAIS TEXTOS DE LUÍS FERREIRA
QUER RECEBER NOTÍCIAS DE SANTA CRUZ DO SUL E REGIÃO NO SEU CELULAR? ENTRE NO NOSSO NOVO CANAL DO WHATSAPP CLICANDO AQUI 📲. AINDA NÃO É ASSINANTE GAZETA? CLIQUE AQUI E FAÇA AGORA!
Publicidade
This website uses cookies.