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GAZ – Notícias de Santa Cruz do Sul e Região

Os olhos de dona Hilda

Dias atrás tive a feliz oportunidade de acompanhar uma ação social promovida para os residentes da Associação de Auxílio aos Necessitados (Asan). Sempre que visito as dependências da instituição, volto pensativa. Mas desta vez, o baque foi mais forte. A pauta era um projeto desenvolvido pelos voluntários Caçadores de Sorrisos, em que a intenção era promover um bailinho aos idosos residentes. O evento foi um mimo. Vovôs e vovós que, muitas vezes, nem a visita de familiares recebem, esqueceram as dores do corpo e as aflições da alma e fizeram do refeitório uma verdadeira pista de dança. Com direito a confete, purpurina, samba e marchinha.

Depois de me divertir observando eles dançarem mesmo com todas as suas limitações físicas, deparei-me com uma senhora que não quis levantar. Suponho que tenha achado difícil se movimentar e ainda conciliar o andador, ferramenta que, hoje, facilita suas caminhadas pelos corredores da entidade. Ela chamou o fotógrafo Lula Helfer e pediu uma foto. Prontamente o retrato foi tirado. Depois disso, resolvi falar com ela. Afinal, o que estaria achando de toda aquela bagunça saudável? Ela fez um aceno positivo com a cabeça e logo me disse: “A gente tá no mundo para olhar”.

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Ao refletir sobre o que dona Hilda havia enxergado naquela tarde, tentei imaginar como fora a sua vida. O que enxergava antes de se tornar uma interna da Asan e o que hoje, ao respirar aquele ambiente de segunda a segunda, ela consegue ver. O que pensa dona Hilda sobre a vida? Ou melhor, o que espera dela aos 97 anos? Quero imaginar que a solidão não a perturbe e as lembranças não a façam sentir falta do mundo que ficou do portão para fora. Desejo que dona Hilda tenha amigas, confesse seus segredos, sinta alegria nos pequenos acontecimentos do dia a dia. Espero que os poucos anos que ainda lhe restam continuem fazendo sentido. E sabe por quê? Porque com apenas uma frase, ela me ensinou que os olhos não nos mostram apenas o que está posto, eles nos fazem enxergar a vida. E como é bom enxergá-la, senti-la. Obrigada, dona Hilda.

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