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Os próximos desafios

Depois da maior tragédia climática já registrada no Rio Grande do Sul, chegamos a uma encruzilhada que envolve dois enormes desafios: a transição da população que lota abrigos e residências de amigos, vizinhos, colegas de trabalho e familiares e a reconstrução psicológica da verdadeira multidão que perdeu tudo – casa, objetos de valor afetivo, história e entes queridos.

Muitos conterrâneos atingidos pelas enxurradas sequer conseguiram acessar as suas residências. O nível da água cede muito lentamente, o que só agrava o sofrimento que parece não ter fim. Milhões de gaúchos convivem com a ansiedade de não poder encarar a dura realidade que se avizinha no pós-enchente.

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Vídeos, fotos e depoimentos chegam a todos nós diariamente para mostrar o terror do lodo malcheiroso e onipresente. Também proliferam imagens das lembranças destroçadas pela fúria das águas e pela destruição de fotos-biografia que registram momentos de alegria, de confraternização e de festejos entre familiares e amigos.

É impensável imaginar-se que o retorno será tranquilo, mesmo para aqueles que salvaram parcela dos bens e que, depois de uma faxina ”no capricho”, poderão regressar às suas casas. As sequelas jamais desaparecerão. Estarão latentes e irão emergir a cada dia de chuva ou temporal. A vontade urgente é mudar de endereço, mas a realidade obriga a permanência no mesmo lugar onde o horror invadiu a rotina desses gaúchos.

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Já a reconstrução psicológica é um desafio ainda mais complexo. É tema para especialistas no assunto. É o universo de pessoas forjadas pela experiência em ajudar, ouvir, incentivar e estabelecer vínculos capazes de, ao menos, minimizar os episódios traumáticos de maio de 2024.

Ouvir o relato de tragédias, nos mínimos detalhes, para eles é tarefa rotineira, compartilhada em consultórios, unidades de saúde, hospitais ou mesmo em outros ambientes daqueles que trabalham de maneira voluntária. Apesar do traquejo, é uma tarefa que assusta pois se trata de uma empreitada gigantesca pelo volume de pessoas atingidas. E também pela intensidade do trauma protagonizado ao longo de todo o mês de maio de 2024.

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Acomodar todos os flagelados, dando-lhes casa com dignidade e novo endereço, exigirá, acima de tudo, muita paciência. Não é preciso experiência ou idade avançada para saber que a burocracia que marca a aplicação do dinheiro de todos os brasileiros é estímulo à corrupção e de imensa demora. Inúmeras iniciativas sem a intervenção do poder público têm demonstrado agilidade, eficácia e resultados altamente satisfatórios.

Sem a força do voluntariado, das ONGs e também da iniciativa privada, milhões de gaúchos continuarão ao relento por meses. Talvez anos.

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