Llanfairpwllgwyngyllgogerychwyrndrobwllllantysiliogogogoch: a cidade na língua local / Fotos: acervo pessoal de Aidir Parizzi Júnior
Ao longo da história, até meados do século 20, o mundo viveu praticamente sem regras multilaterais ou organismos plurinacionais. O que valia era a lei do mais forte, com a percepção de que ocupar e dominar outros territórios, soberanos ou não, era um direito implícito de países militarmente poderosos. Um conjunto de antigas tribos celtas, conhecido hoje como País de Gales, foi por séculos uma constante vítima dessa lacuna na ética internacional.
No final da Idade do Bronze (700 a.C.), grupos celtas migraram da Europa Central para a Grã-Bretanha, na época um território com clima hostil e parcamente habitado. Nos séculos seguintes, a chegada de invasores foi empurrando gradativamente esses povos para os confins ocidentais da ilha. A geografia da protuberância montanhosa do oeste da Grã-Bretanha facilitou a concentração celta na região que os galeses chamam hoje de Cymru (pronúncia-se camri). Já o termo Gales, ou em inglês, Wales, significa “estrangeiro” na raiz germânica, e vem da forma com que os invasores tratavam esses povos que podemos chamar de originários.
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Os romanos, por exemplo, permaneceram por mais de três séculos nas ilhas britânicas. Ao mesmo tempo que oprimiram e exploraram os povos locais, indiretamente geraram uma união contra inimigos comuns, especialmente os que se seguiram: saxões, vikings, normandos e, mais recentemente, a combinação de todos eles, os ingleses. A unificação das várias tribos celtas, que originalmente lutavam umas contra as outras, criou uma coesa nação. No esforço de manter o domínio na região e abafar as constantes revoltas nacionalistas durante a Idade Média, mais de 600 castelos foram construídos pelos invasores, espalhados pela bela e montanhosa paisagem galesa.
Embora o país tenha sido oficialmente anexado à Inglaterra em 1536, e apesar das repetidas ocupações, a identidade foi mantida também pela língua e pela literatura. Escritores e pensadores, como Roald Dahl e Bertrand Russell, estão entre seus maiores expoentes.
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Um galês, este menos famoso, teve seu nome imortalizado no teto do mundo. Sir George Everest, nascido próximo à capital galesa, Cardiff, foi o responsável por mapear a região dos himalaias e acabou homenageado com o nome do pico mais alto do planeta. Em outra curiosidade, em meio às guerras com os galeses iniciadas pelo belicoso rei Eduardo I (1239-1307), o monarca seguinte, seu filho Eduardo II (1284-1327), nasceu no belo Castelo de Caernarfon, Gales, e foi chamado de Príncipe de Gales. Tradicionalmente, desde então, o título de nobreza cabe aos herdeiros do trono inglês. O atual Príncipe de Gales é William, herdeiro aparente da coroa britânica.
Em 1999, a pressão popular e o renascimento do espírito nacionalista fizeram com que o País de Gales voltasse a ter certa autonomia. O parlamento local foi criado, a língua galesa voltou a ser popular e os símbolos nacionais, em especial a bandeira alviverde com o prominente dragão vermelho, passaram a ser usados regularmente.
A língua, aliás, foi mantida graças em grande parte à tradução da Bíblia para o galês, logo após as reformas protestantes. Proibida nas escolas, era, contudo, permitida na catequese, o que salvou o galês. Somente em 1967, o idioma falado por cerca de um terço da população foi reconhecido como oficial, juntamente com o inglês. No mesmo ano, o País de Gales se tornou uma nação separada da Inglaterra, embora permaneça parte do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte.
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De volta ao ponto inicial, e avaliando o mundo de hoje, a lei do mais forte entre os países, que parecia ter sido abandonada, retorna com força, infelizmente, em várias partes do globo. Crescem o ódio e a destruição do que resta da frágil ordem internacional, alimentados por líderes fascistas e truculentos que exploram a não política, o caos das redes sociais descontroladas e, principalmente, a desesperança do povo.
Extremismos à parte, a falta de uma estratégia e de um pensamento conciliador dos setores mais progressistas e democráticos também colabora para o obscuro cenário. Por que não podemos seguir o exemplo histórico de união dos galeses? Inimigos comuns não nos faltam.
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