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Professor Edgar: um mestre para toda a vida

Uma vez mestre, para sempre mestre. A frase assenta-se à perfeição na trajetória do professor Edgar Affonso Hoffmann, santa-cruzense que, aos 80 anos, aposentado desde 2010, segue mantendo uma rotina de leituras e não abre mão de se informar. Seus milhares de alunos, nas diversas instituições de ensino onde atuou, reafirmariam com convicção a importância que seus ensinamentos tiveram em suas vidas, no âmbito pessoal e profissional. Neste 15 de outubro, Dia do Professor, o mestre Edgar reafirma que,  mesmo diante dos avanços tecnológicos adotados nos educandários, segue intacto o papel vital das pessoas na formação dos estudantes. 

Edgar Hoffmann atuou por nada menos do que 41 anos no magistério, nos diferentes níveis. Só no ensino superior foram 37 anos, junto à Unisc, desde bem antes da transformação em universidade, ainda no tempo das faculdades integradas. Trabalhou em tantos cursos que – diverte-se – nem lembra quantas disciplinas lecionou. 

Reconhece que a situação do professor mudou muito ao longo do tempo. “Hoje nem conseguiria mais me adaptar a tanta tecnologia, tanto recurso utilizado”, diz. “Sou de um tempo em que se tinha de ter domínio do assunto. As bases eram a leitura e o conhecimento, não a tecnologia.” 

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Observa que, na atualidade, muitos alunos vêm de famílias nas quais os pais estão ausentes por conta dos compromissos profissionais. “A relação entre professor e aluno mudou demais”, cita. “No meu tempo, jamais um aluno desobedeceria orientações do professor. Essa regra era clara.” 

Mesmo com as mudanças, seu Edgar entende que a essência do ser professor continua intacta. “O mestre não é alguém que meramente transmite conhecimento. Mais do que formar ou informar, educar é instruir, preparar para a vida, e isso envolve mente e coração. É politizar, tornar o aluno um cidadão de fato.” 

Em sua avaliação, uma vez que o professor acaba sendo o primeiro grande guia de cada criança fora da família, cabe a ele ajudar a firmar e formar conceitos como ética e moral, “tão ausentes na sociedade de hoje”.

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Da sala de aula para a horta

A consciência e convicção da importância da leitura permanecem plenas hoje para o professor Edgar Hoffmann. Ao lado da leitura diária dos jornais, e do breve acesso ao computador, segue lendo os clássicos, de Horário e Virgílio a Sêneca e Cervantes, no original, com apoio de dicionários e comentários. Ele recorda que, além da temporada em Roma e da conclusão do curso na Espanha, fez outras viagens de aprendizado pessoal pela Itália. “Penso que o contato com outras culturas é muito salutar, para que a pessoa se familiarize com outros estilos de vida”, resume. 

Agora, aos 80 anos, procura manter ritmo de vida de muita calmaria, alternando a rotina de casa com idas a Linha Santa Cruz para cultivar hortaliças – alface, brócolis, tomate, pimentão, batata-doce – em terreno que a família possui em sua localidade natal. “Lidar com a terra faz um bem enorme”, reconhece, com sua sabedoria enternecedora.

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Seus caminhos levaram a Roma

Natural de Linha Santa Cruz, onde nasceu no dia 10 de julho de 1936, Edgar Hoffmann trilhou uma caminhada de estudos que o levou da vida interiorana ao curso de Teologia em Roma e ao doutorado na universidade de León, na Espanha. O percurso está intimamente ligado ao seu gosto pela leitura e ao gradativo domínio de línguas, do grego ao francês, do espanhol ao português e ao alemão.

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Sua família não possuía terras. O pai era empregado em cooperativa na localidade e a mãe foi dona de casa. Os pais o matricularam na escola primária com seis anos e meio e ele ainda lembra, com carinho, do professor Affonso Pedro Rabuske. 

Anos depois, um padre o aconselhou a ingressar no seminário jesuíta de Gravataí. Entre 1955 e 1960, cumpriu o curso inteiro, equivalente ao ginásio e ao científico, e então se inscreveu no curso de Filosofia, em Viamão. Não chegou a concluir a etapa pois, depois de três anos, o bispo dom Alberto Etges, em 1964, intercedeu para que cursasse a Universidade Gregoriana, em Roma. Formado em Teologia, voltou de Roma em 1968. Optou por não se ordenar e passou a lecionar no seminário de sua localidade natal em 1969. “Não me preparei para ser professor. Me fizeram professor”, brinca. 

No entanto, perante centenas, milhares de alunos, foi expondo, ano após ano, seus vastos conhecimentos e suas leituras em grego, francês, português, literaturas portuguesa e brasileira. E novas disciplinas iam sendo agregadas ao currículo. Por esse tempo, também começou a namorar. Em 1974 se casou com dona Zelíria. Juntos, tiveram quatro filhos – Angelo, Jaqueline, Solange e Fabiano – e hoje curtem os quatro netos. 

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Na medida em que ia agregando novas disciplinas, expandiu também a formação, concluindo o curso de Filosofia. Em 1992 iniciou o doutorado na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em parceria com a universidade de León, na Espanha, tendo defendido a tese em 2001.

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