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Quando a política fura a fila do SUS em Santa Cruz

Um dos principais gargalos da saúde pública no Brasil, a fila de espera do SUS padece não só das carências de recursos e infraestrutura, mas também de interferências políticas indevidas, que ferem a lei e prejudicam quem aguarda por atendimento. Documentos obtidos pela Gazeta do Sul mostram que Santa Cruz do Sul não está livre dessa realidade.

Os documentos são de 2013 e indicam que, em muitas situações, procedimentos foram autorizados sem que a tramitação regular fosse respeitada para atender a pedidos que partiram de membros do governo. Em alguns casos, exames foram agendados sem autorização prévia de médicos avaliadores e beneficiando pessoas que sequer passaram pela Central de Marcação de Consultas e Exames (Casa) – o que, à época, era exigido.

EX-SECRETÁRIO FOI AVISADO

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Um dos documentos é um ofício encaminhado por duas servidoras da Casa ao então secretário da Saúde, Carlos Behm, em outubro daquele ano. No ofício, no qual consta a assinatura de recebimento de Behm, a então coordenadora da Casa, Cátia Elisa Hoesker, e a então funcionária responsável pela autorização de exames, Adriane Salete Gass, relatam ao titular da pasta que procedimentos vinham sendo agendados sem que a fila de espera de pacientes fosse obedecida. “Como é de seu conhecimento, recebemos ordens para efetuarmos tais autorizações desta forma”, afirmaram. 

No texto, Cátia e Adriane alegam que decidiram comunicar o secretário dessas situações para se respaldarem em relação a “quaisquer problemas futuros” e sugerem, inclusive, que um funcionário da Casa, Jeferson Toni da Cruz, já teria sido afastado em razão das irregularidades. Os documentos foram levados ao Ministério Público na semana passada. Uma audiência sobre o assunto está marcada para esta terça-feira na Promotoria que fiscalizada a área da saúde.

PEDIDOS SÃO COMUNS

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O ex-secretário de Saúde, Carlos Behm (PSDB), que atuou no governo até abril do ano passado, confirmou ter recebido o ofício das funcionárias da Casa relatando as supostas irregularidades no agendamento de exames. Segundo ele, intervenções buscando facilitação de procedimentos no SUS não são raras. “Esses pedidos são comuns no meio político”, disse. Ele admitiu ainda que, como na época o processo de marcação era feito de forma 100% manual, infrações como essas eram de difícil controle.

NÃO HÁ INTERFERÊNCIA, DIZ HENRIQUE HERMANY

Procurado, o atual secretário de Saúde, Henrique Hermany, disse que não há interferência política no agendamento de exames. “Posso responder pelo período que começa quando eu assumi, em abril de 2015. O fluxo é estritamente técnico e não há interferência externa”, afirmou. Henrique disse que jamais recebeu qualquer demanda por parte do gabinete sobre autorização de exames e que eventuais pedidos de facilitação são rejeitados. “As pessoas procuram uma forma de facilitar, mas sempre encaminhamos via Ouvidoria. Às vezes, até ouvimos queixas por isso.” Ele afirmou ainda que avaliará a possibilidade de algum procedimento no sentido de apurar as denúncias. “Não posso prejulgar ninguém. O que posso garantir é que hoje isso não ocorre.”

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LEIA REPORTAGEM COMPLETA NA EDIÇÃO
DESTE FIM DE SEMANA DA GAZETA DO SUL

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