“Quem sabe finalizamos aí”, diz Thiago Lacerda em entrevista sobre o filme “Porongos”
Thiago Lacerda interpreta Bento Gonçalves no filme "Porongos" | Foto: Thiago Olivar/Divulgação
Agraciado com o prêmio Tuio Becker no 6º Festival Santa Cruz de Cinema, em 2023, Thiago Lacerda vive Bento Gonçalves em Porongos, novo longa-metragem dos cineastas Diego e Pablo Müller. Em entrevista exclusiva à Gazeta do Sul, o ator carioca afirmou que não precisou ser convencido a viver a figura histórica, que se tornou o primeiro presidente da República Rio-Grandense.
Lacerda buscou humanizar o personagem, rompendo com a versão romanceada do herói. “Essa história é repleta de humanismos, para o que há de positivo nela e também para o que há de negativo. A proposta é buscar essa verdade e essa natureza próxima de uma experiência que só esses personagens vivenciaram.”
Para o ator, trata-se de um filme urgente, que revisita um momento indigno da história brasileira. Em Porongos, busca-se, segundo o ator, provocar o público e trazer o fato histórico para o debate, algo que considera uma das funções essenciais da arte.
Agora que os produtores buscam recursos para finalizar o longa-metragem e gravar o massacre de Porongos, Lacerda aguarda pelo fim das filmagens. “Espero que essa entrevista alcance as pessoas que compreendem a importância do cinema e de fomentarmos a nossa cultura. Tenho certeza que vai ser motivo de orgulho para todos nós.”
Questionado sobre a possibilidade de concluir as filmagens em Santa Cruz e região, o ator afirmou que seria incrível. Ressaltou que há várias maneiras de colaborar com a produção cinematográfica e que o importante agora é a união e canalização de esforços para a conclusão dessa história urgente. “Quem sabe a gente volta e finaliza por aí. Ia ser lindo. Temos um grande filme nas mãos e que precisa de apoio. Juntos, vamos ser capazes de contar essa história.”
Confira também a entrevista completa em vídeo:
Entrevista
Thiago Lacerda – Ator
Gazeta do Sul – Por que o interesse de participar de Porongos e fazer o papel de Bento Gonçalves? O Bento não precisa de muito papo para convencer a gente a querer fazer. É um personagem muito importante da história do Brasil, com uma vasta biografia, e que eu conheço já há muito tempo. Para além disso, eu sou muito amigo do Diego e do Pablo Müller, dois grandes parceiros, amigos imensos, extremamente talentosos os dois. No meio dessas nossas conversas, desses encontros, sempre trazemos histórias que nos convocam. Eu, o Diego e o Pablo, temos muito em comum o anseio pelas grandes histórias que precisam ser contadas. Eu me sinto essencialmente um contador de história, o que faço é essencialmente isso, levar através dos personagens reflexões que julgo serem importantes. E o Porongos é um pouco o produto desse momento. O Diego sempre se interessou por essa história. Lembro de que ele me disse uma vez, falou que estava escrevendo e que era uma história que precisávamos fazer e contar. Quando o texto ficou pronto, ele me avisou e convocou uma leitura para experimentá-lo. A partir daí, ficamos em torno da necessidade urgente de trazer esse momento trágico, esse momento indigno da história brasileira, revisitar esse passado que, por vezes, nos assombra e a gente nem sabe de onde vem.
E como foram as filmagens e a oportunidade de estar gravando com este elenco? O elenco que o Diego conseguiu reunir me enche de orgulho. Eu fiquei muito feliz com as escolhas, o elenco é extremamente talentoso, extremamente dedicado. São atores comprometidos com o que estão fazendo. Tive uma experiência pessoal linda com cada um deles em cena, momentos de troca absolutamente verdadeiros e um jogo, uma disponibilidade linda. O elenco é um ponto alto do filme. Tenho certeza de que não estamos fazendo apenas um filme importante e urgente. Estamos fazendo um filme lindo, impactante estética e simbolicamente. E o orgulho, o prazer de voltar à nossa história, porque acredito muito que voltar à nossa história é, de alguma maneira, contribuir para que possamos compreender melhor esse momento que vivemos e sejamos capaz de olhar para o futuro com um pouquinho mais de clareza. É muito importante esse retorno à história de quem somos, porque muitas vezes não nos contam essa história. Atravessamos essa jornada fantasiando coisas. Então, acho que esse serviço que a arte presta, que o filme presta é muito interessante, poder voltar à história de quem somos para a compreensão melhor do presente e uma perspectiva mais justa, mais interessante, mais realista do futuro.
A novela Terra Nostra está sendo reexibida na televisão. Uma oportunidade para os fãs reverem e apresentá-la a um novo público. O quanto esse trabalho foi significativo na tua carreira? Eu e meus cabelos brancos estamos revendo Terra Nostra. É muito interessante, tantos anos depois, me olhar. Não tenho muito esse exercício de ficar buscando coisas que já fiz, ficar me olhando, me revendo. Mas como exercício e como algo muito pessoal, foi curioso voltar para esse momento. E foi muito impressionante. Fui capaz de lembrar do rosto das pessoas, do cheiro das locações, da roupa e do figurino, do cheiro das pessoas. Impressionante, eu me surpreendi. A primeira coisa que me veio foram essas sensações profundas. Um momento lindo da minha vida, um momento único, um trabalho inesquecível que toca as pessoas até hoje. É impressionante a quantidade de contatos que recebo de pessoas emocionadas, de pessoas revivendo uma história que marcou, marcou o tempo de cada uma, porque era muito cultural nosso, a coisa da reunião em torno das novelas e tal. Mas é mais curioso ainda receber a mensagem de gente que não assistiu e está vendo porque está fazendo sucesso no TikTok.
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Julian Kober
É jornalista de geral e atua na profissão há dez anos. Possui bacharel em jornalismo (Unisinos) e trabalhou em grupos de comunicação de diversas cidades do Rio Grande do Sul.