O jornalista e professor Diego Weigelt acompanha o desenvolvimento de cerca de 300 cafeeiros em propriedade no interior de Vera Cruz
Quem passa pelo caminho de pedras e chega até o gramado da pequena propriedade de dois hectares em Alto Dona Josefa se deslumbra. Não apenas com a paisagem e a vegetação exuberantes, mas com o tanto de histórias que surgem naquele pequeno exemplar de paraíso do interior de Vera Cruz, hoje chamado Quinta dos Pirilampos.
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Da casa branca com janelas azuis, inspirada em Portugal e nas obras de Mario Cesariny e Fernando Pessoa; do lago, cuja água é testemunha do trabalho; e da mata cercada de vida. Diego Weigelt semeia sonhos. É ali, nesse recanto, que escolheu para experimentar uma nova vida, e onde o jornalista e escritor se dedica a uma paixão: o próprio cafezal.
O que começou por acaso, em 2022, tem prosperado a cada ano. Dos dois primeiros pés, encontrados durante as andanças, hoje já são 300. “Entrei em contato com a Embrapa e a Fundação ProCafé e eles confirmaram que se tratava de arábica. Atualmente, temos alguns pés produzindo das variedades Typica, Bourbon, Arara, Iapar, Obatan, IBC e Mundo Novo, que ainda estão em fase de crescimento e devem começar a produzir em até dois anos.”
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E, assim, quem dedica alguns minutos para conhecer os projetos de futuro do proprietário é tomado pelo aroma de dias ainda mais promissores. Como no sabor e no aconchego de uma boa dose de café, Diego não se cansa de sonhar. E ainda vai mais longe: “Se aqui somos conhecidos como a capital da gincana, quem sabe possamos, no futuro, ser a capital gaúcha do café?”. Mesmo que a possibilidade não seja considerada por muitos, o brilho no olho do pequeno produtor é testemunha: o início do “impossível” ele já fez.
Quando viu o pé de café de perto, carregado de frutos, foi amor à primeira vista. “Por isso eu me apaixonei. Era muito lindo.” Para o neto de agricultores, que brincava de plantar grãos de feijão com os primos na infância, poder voltar às origens e experimentar um novo contato com a terra é a realização de um sonho. “Eu já não aguentava mais morar em apartamento, o que se acentuou no pós-pandemia. Aqui eu me encontrei. Mexer com a terra me dá paz. E isso é importante para mim.”
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Na propriedade, além de café, a ideia é “plantar tudo o que a gente puder”, afirma Diego. É esse espaço ao ar livre para criar e experimentar que motiva os moradores. “Aqui a gente aprende a esperar, a tentar e a se adaptar.” E ao lembrar de um texto de própria autoria, escrito aos 15 anos, o mais novo cafeicultor encontra motivos para seguir em frente. “Espero poder algum dia olhar para trás e dizer que não levei uma vida monótona. Recordo dessa frase todos os dias. E ela me faz continuar.”
Diego Weigelt não gosta de se definir. Segundo ele, “quer ser o máximo de coisas possíveis na vida”. E desde que os pés de café surgiram pelo caminho, ele não parou mais. Incansável na arte de aprender, mergulhou em livros e artigos para compreender a arte de produzir os grãos. “Depois disso comecei a estudar, fazer cursos sobre o plantio, o processamento e também a torra. Não sou agrônomo, mas já estudei muito sobre cafeicultura”, afirma.
Além dos escritos, decidiu ir além: visitar fazendas de café pelo Brasil. O que era para ser uma viagem solo, no entanto, ganhou companhias ilustres: os pais Leni e Sergio, os guardiões do café da propriedade, como o próprio filho diz. “Era uma viagem muito longa para ele fazer sozinho”, conta a mãe. Assim, em novembro de 2024, o trio partiu para desbravar quase 8 mil quilômetros, passando por seis estados, do Rio Grande do Sul à Bahia, conhecendo fazendas produtoras e colhendo inspiração para semear em Vera Cruz.
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A aventura de 21 dias pelos cafezais brasileiros também ajudou a moldar o livro Uma vida com café (editora Insular), lançado recentemente, durante a 35ª Feira do Livro e a 1ª Festa Literária Internacional de Santa Cruz do Sul. De autoria de Diego Weigelt, a obra é resultado de dois anos de pesquisas e viagens, na qual busca compreender como o café molda, inspira e acompanha vidas ao redor do mundo.
Para isso, o material apresenta 25 entrevistas com produtores de diferentes regiões do planeta: Argentina, Colômbia, Peru, Panamá, Havaí (Estados Unidos), Ilha da Reunião (França), Ilha de Santa Helena (Reino Unido), Açores (Portugal), Inglaterra, Itália, Etiópia, Indonésia, Tailândia, Vietnã, China e Brasil. “É um retrato completo, honesto e sensível da cafeicultura contemporânea”, como define
o autor.
Considerada um símbolo do País, a cafeicultura é responsável por colocar o Brasil como maior produtor e exportador mundial. Além disso, surge como o segundo maior consumidor. Conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na safra de 2023 foram beneficiadas 55,1 milhões de sacas, sendo 38,9 milhões de arábica, que representa 70% da produção nacional. Entre os principais produtores estão Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Espírito Santo, Rondônia e Bahia se destacam na produção do café conilon, direcionado ao solúvel.
Devido ao clima frio, o Rio Grande do Sul não apresenta as condições ideais para produção em larga escala. Mas há algumas regiões nas quais o microclima permite o cultivo de pequenas lavouras. Em solo onde predominam as lavouras de tabaco, Diego Weigelt apostou no sistema agroflorestal, que garante proteção às plantas durante o inverno.
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Conforme informações disponibilizadas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), no folheto “Café: formação da lavoura”, de 2017, “as geadas são eventos climáticos que provocam o congelamento das plantas e podem acarretar grandes prejuízos à lavoura de café”. Por isso, em casos extremos, elas podem causar a morte da planta. “Eu cheguei a plantar um pé em campo aberto, para teste, e ele não resistiu”, conta Diego.
A espécie arábica, por exemplo, tem melhor desenvolvimento em áreas com clima mais ameno. A temperatura média ideal fica entre 19 e 22 graus. Adapta-se melhor em altitudes superiores a 800 metros, necessitando de pelo menos 1.200 milímetros de chuva por ano.
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Todo esse protagonismo nas lavouras brasileiras fez com que a Editora Gazeta, inclusive, lançasse o Anuário Brasileiro do Café em 2005. Ao longo dos últimos 20 anos, a publicação trouxe detalhes sobre o cenário brasileiro, entre outras curiosidades, notícias e histórias que já inspiraram muita gente.
A capa da edição de 2024, por exemplo, foi obra da artista plástica Valéria Vidigal, a mesma que assina a pintura da capa do livro de Diego. Coincidências e causos que ficam ainda melhores quando compartilhados à mesa, numa roda de café. Para saber mais, acesse o site.
Assim como foi uma surpresa encontrar pés de café na propriedade, em 2022, Diego Weigelt também se surpreendeu com uma notícia veiculada em 1978 pela Gazeta do Sul. Nas páginas do jornal (reprodução ao lado) nada mais, nada menos que a história da família produtora Kumm, e seus 5 mil pés de café. Onde? Em alto Ferraz, no interior de Vera Cruz.
“Em julho do ano passado, em uma entrevista para o Romar Beling, ele me falou de uma plantação pioneira. Na hora fiquei emocionado e comecei a pesquisar.” Apesar de não ter encontrado outros registros sobre isso, continua otimista. “Aqui, acredito que as plantas se desenvolvam bem porque estamos em região alta, chegando a quase 400 metros de altitude.” Hoje, das sementes plantadas em tubetes, Diego prevê 1.404 mudas. Desse total, planeja distribuir algumas a outras pessoas com interesse em seguir a mesma jornada.
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“Se me perguntasse qual meu sonho, diria que é ajudar cada vez mais gente a plantar e fazer de Vera Cruz, no futuro, ser a capital do café no Rio Grande do Sul. Parece impossível, mas não é. História nós temos.”
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