No momento em que o Brasil ultrapassa 13 milhões de pessoas curadas da Covid-19, uma nova preocupação ganha cada vez mais força. Trata-se da chamada síndrome pós-Covid. Estudos mostram que a maioria dos recuperados apresentam pelo menos um sintoma por longo período após o fim da infecção. Casos graves e que necessitam de internação costumam deixar mais sequelas. Contudo, mesmo pacientes leves e que não precisaram de atendimento hospitalar podem ficar com marcas duradouras da doença.
Quem faz esse alerta é a professora e fisioterapeuta Andrea Gonçalves, coordenadora do Serviço de Reabilitação Cardiorrespiratória do Hospital Santa Cruz. Com o surgimento da nova demanda, desde agosto de 2020 o serviço se reinventou e passou a atender pacientes que ficaram com sequelas da Covid-19. Andrea reforça a importância de buscar atendimento diante de sintomas que não passam. “A orientação é para que as pessoas procurem uma avaliação médica, porque isso não é normal.”
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No caso do cansaço, uma das queixas mais comuns em pacientes recuperados, é possível que o problema não esteja relacionado aos pulmões, mas sim a alguma alteração cardíaca. “Temos alguns pacientes que são os chamados hipoxêmicos felizes, aqueles em que a oxigenação do sangue cai e eles não percebem. Assim como também há pessoas com quadro hipertensivo e que não têm sintomas”, relata Andrea. Segundo ela, as consequências podem ser graves caso não haja tratamento.
“Tem gente, por exemplo, que em repouso está com frequência cardíaca de 110, 115 batimentos por minuto. Isso é altíssimo, em repouso tem que estar abaixo de 80. O nosso coração não foi feito para bater assim”, alerta a fisioterapeuta. Assim como ocorre com as internações, a faixa etária dos pacientes que apresentam essas complicações também baixou muito, e hoje acomete pessoas de 30 a 40 anos. “Quem teve Covid precisa fazer um acompanhamento médico, porque não sabemos as sequelas a longo prazo”, completa.
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Síndrome da Covid longa e transtornos mentais
Os especialistas classificam como síndrome da Covid longa casos de pacientes que têm algum tipo de complicação mesmo passados 30 dias do fim da infecção. A alteração do paladar também é um problema comum, e que pode acarretar outras patologias. A recuperação muitas vezes é parcial, fazendo com que a pessoa aumente muito o consumo de sal e açúcar, o que pode desenvolver hipertensão arterial, cálculos renais, diabetes e outras doenças.
Outra queixa recorrente entre os recuperados da Covid-19 diz respeito a transtornos mentais, como perda de memória, dificuldade de concentração e/ou raciocínio e distúrbios do sono, além de ansiedade e depressão. “Temos pacientes com níveis de ansiedade altíssimos, e outros com déficit de atenção ou alterações cognitivas e de memória. São pessoas jovens reclamando que a cabeça não é mais a mesma”, salienta a fisioterapeuta Andrea Gonçalves. Com tantas manifestações diferentes, o Serviço de Reabilitação Cardiorrespiratória passou a oferecer uma avaliação multidisciplinar.