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GAZ – Notícias de Santa Cruz do Sul e Região

Redes sociais e imbecis

Pouco antes de morrer, Umberto Eco fez uma declaração e tanto: disse que as redes sociais “deram a palavra a uma legião de imbecis”. Um verdadeiro banho de água fria nesses tempos em que nada nos agonia tanto quanto um bloqueio do WhatsApp.

Sim, a frase de Eco pode parecer o ranço de um idoso com má vontade em relação ao que é novo e, por isso, incapaz de entender o fenômeno da democratização dos espaços de fala em toda a sua complexidade. Mas para mim, filho da geração digital, trata-se de uma das mais certeiras, profundas e corajosas observações sobre a atualidade.

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Como pode então, diante de tamanho arejamento, termos a impressão, a cada vez que deslizamos nossas timelines, de que estamos retrocedendo, nos tornando mais fundamentalistas e preconceituosos – enfim, mais imbecis? O que Eco parece ter constatado é que não são as redes sociais que estão nos mudando para pior; estão apenas revelando o que há de pior em nós.

Quando falo em imbecilidade, não me refiro a quem só compartilha selfies e memes bobinhos ou publica foto do café da manhã. Me refiro ao médico que faz postagem debochando do paciente que não sabe falar o nome da doença; de quem xinga a presidente da República de vaca; de quem vai à página de uma atriz negra para chama-la de macaca; de quem diz que a culpa de um estupro coletivo é da vítima; de quem pede que ladrão de galinha seja linchado e de quem dá risada de comentários pedófilos. Falo  de quem aplaude um deputado que reverencia torturadores; de quem torce para que o País se dê mal na organização da Olimpíada; de quem fecha os olhos quando algo pesa contra o seu partido e solta a língua para falar dos outros; ou de quem acha normal os “brexits”, os plebiscitos separatistas e os projetos de muros para repelir refugiados. Quem imaginaria que podemos ser tão insensíveis?

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