Sete anos fora de casa. Sete anos tendo Santa Maria como endereço e refúgio, uma cidade que hospeda, ensina e obriga a crescer. Dar adeus não foi simples: toda despedida carrega uma ponta de resistência. Mas foi necessário. “Foi preciso ir embora para entender a importância de Rio Pardo.” Foi com essa frase que matei a saudade de minha mãe quando retornei ao lar. A cidade do interior tem essa capacidade de nos acolher de forma calorosa e, ao mesmo tempo, de nos lembrar que a intimidade de conhecer todos – e de ser conhecida como a neta da Dona Olga e filha da Cristina – talvez seja justamente a qualidade que mais sentimos falta quando vivemos em outro lugar.

Era uma quarta-feira, 4 de junho de 2025, quando decidi que a cidade de apenas uma sinaleira voltaria a ser meu lar. Talvez, no fundo, nunca tenha deixado de ser. Verde. Amarelo. Vermelho. Para os rio-pardenses, ponto de encontro, referência imediata. Para quem vem de fora, uma curiosidade quase folclórica. Para os turistas, apenas norma de trânsito. Mas a sinaleira, sozinha, é quase um marco: diz muito sobre um município que parece pequeno, mas guarda grandezas que não cabem no semáforo.

Rio Pardo foi palco de batalhas e está entre as quatro primeiras vilas do Estado, ao lado de Rio Grande, Porto Alegre e Santo Antônio da Patrulha. Aqui se travou a Batalha do Barro Vermelho, hoje lembrada pelo bairro que carrega seu nome. Terra que recebeu a luz do amanhecer e a voz da liberdade que ecoaria pelo Estado. Berço da “Aurora Precursora”, que mais tarde se tornaria o hino do Rio Grande do Sul.

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Retornar é, acima de tudo, ter a liberdade de transitar entre o presente e o passado. É sentir a nostalgia sem se perder do hoje, perceber que cada esquina, cada praça, cada pedra do calçamento carrega memórias que nos ajudam a compreender quem somos. É reconhecer a importância do ponto de partida, aquele lugar que nos forma e nos chama de volta, não como prisão, mas como acolhimento.

E, neste mês da Semana Farroupilha, a cidade parece respirar tradições que atravessam o tempo. O vento, outrora minuano, agora traz o perfume da primavera e a essência do 20 de setembro. Traz lembranças de coragem e resistência, bandeiras que tremulam nas praças, o cheiro de churrasco que atravessa manhãs e tardes do acampamento farroupilha, lembrando que a história se faz em cada gesto simples.

Talvez seja isso o que mais encanta nos retornos: a constatação de que, mesmo depois de idas e voltas, há lugares que permanecem vivos dentro de nós. E voltar para eles não é apenas uma escolha – é um gesto de pertencimento, de memória e de afeto silencioso pela terra que nos viu nascer.

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Karoline Rosa

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Karoline Rosa

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