Astor Wartchow

Rio: o assassinato dos médicos

De tempos em tempos, os brasileiros revelam-se surpresos e chocados com algum acontecimento, digamos, aqueles de viés cinematográfico, a exemplo das circunstâncias do cruel assassinato dos médicos na orla carioca. Mas, de acordo com a rotina da região, sabe-se que foi mais um “filme” como outros tantos já exibidos.

Há mais de trinta anos, existem disputas entre diferentes grupos pelo controle de bairros e favelas cariocas. As milícias e os grupos de tráfico de drogas estão presentes na absoluta maioria dos bairros.

Os milicianos dominam o equivalente a 58% do território. Os traficantes controlam as demais áreas. Pesquisas identificam sinais de disputa territorial em 52 locais.

Publicidade

Os grupos de traficantes são mais antigos (origens nos anos 70, 80 e 90). A novidade é o crescente poderio das milícias (origem nos anos 2000). Essa competição de interesses explica a natureza, a diversidade e a frequência dos conflitos armados.

LEIA TAMBÉM: A desconstrução da credibilidade

Ultimamente, são quatro os principais grupos armados, quais sejam: o Comando Vermelho, o Terceiro Comando, o Amigos dos Amigos e as milícias. (Fonte: Mapa dos Grupos Armados no Rio de Janeiro – 2019).

Publicidade

Como os “negócios” e as ambições grupais exigem controle territorial, controle social e atividades de mercado, há uma permanente disputa que consiste em conquistas, perdas e retomadas territoriais. Sob “ferro e fogo”.

A geografia acidentada e a favelização concentrada facilitam o controle territorial e social pelos marginais, assim como dificultam a movimentação e a ação policial.

Logo, há um permanente estado de dramaticidade, sofrimento e mortalidade que atinge essas comunidades. A complexidade e a amplitude do problema não permitem expectativas otimistas. Sobretudo porque continuam sem respostas várias questões essenciais.

Publicidade

LEIA TAMBÉM: Política e o vir a ser

Perguntas não respondidas pelas autoridades, notadamente os serviços de inteligência. Dois exemplos. Como entram no país toneladas e toneladas de drogas? Como chegam às mãos dos bandidos milhares de armas leves e pesadas?

A proliferação e a organização das ações criminosas, associadas às dificuldades operacionais dos órgãos repressivos e à histórica impunidade, refletem o sentimento nacional de um estado de medo e desesperança. Uma síndrome.

Publicidade

Se o estado se omite, se a sociedade se omite, em partes ou no todo, os vazios de organização e poder civilizado e institucional são ocupados por outras formas de organização e poder, regra geral pelo predomínio do medo e da violência.

Afinal, a história ensina: não há vácuo de poder!

LEIA OUTROS TEXTOS DE ASTOR WARTCHOW

Publicidade

Guilherme Andriolo

Nascido em 2005 em Santa Cruz do Sul, ingressou como estagiário no Portal Gaz logo no primeiro semestre de faculdade e desde então auxilia na produção de conteúdos multimídia.

Share
Published by
Guilherme Andriolo

This website uses cookies.