Perdoa teus inimigos, mas não esqueça seus nomes.” A frase, historicamente atribuída ao ex-presidente John Kennedy, dos Estados Unidos, está cada vez mais atual. Já o ditado “olho por olho, dente por dente”, do Código de Hamurabi, primeiro código de leis da história, também tem servido o ideário para muita gente que busca tudo, menos paz, entendimento e solidariedade.
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A chegada de um ano novo soa para mim como se fosse um caderno novinho em folha, pronto para escrever uma história nova, diferente, mais edificante. Depois de juras de amor e fraternidade e de votos de muita saúde, o cotidiano parece endurecer os corações com espaço apenas para conflitos pouco civilizados. Sentimentos nobres somem, conflitos se multiplicam, ressentimentos afloram e as divisões não só persistem como se intensificam.
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A política brasileira tem sido palco de dantescas manifestações humanas, se é possível assim classificar. As verdadeiras amizades, forjadas ao longo do tempo, perdem força e naufragam à custa de interesses pessoais, mesquinhos, duvidosos. Cargos e funções na atividade pública reluzem com ouro, ofuscando sentimentos verdadeiros de fidelidade, coerência, sinceridade e solidariedade de que tanto carecemos.
Em Brasília, nota-se que retorna com força o clima de beligerância inaugurado no pós-eleição de 2018 e que perdura desde então. A imprensa e o Poder Judiciário contribuíram decisivamente para isso. É cada vez mais raro ler/ouvir o contraditório. Se impôs a lei do pensamento único. A mídia virou palanque, colegas jornalistas – com exceções – são cabos eleitorais escamoteados. Decisões monocráticas afrontam direitos consagrados, a liberdade foi atingida pelo flerte com a arrogância, o egoísmo, a empáfia e a ausência de humildade.
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Com a posse de domingo, transmitida ao vivo em tempo real para todo o país, estabeleceu-se oficialmente a temporada de caça às bruxas, da busca de culpados para justificar incompetência, empreguismo e arranjos político-partidários.
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As promessas de paz e de reconstrução esvaíram-se em discursos redigidos por ghost writers sem compromisso com a verdade, com a realidade e com a competência para realizar. Temos alegria de alguns, depressão de outros, mas com certeza prejuízo para todos. Muitos, indistintamente, que há décadas anseiam por gestos concretos que fomentem a união para enfrentar males históricos. Nesse lamentável rol se alinham mazelas como fome e pobreza, cuja extinção artificial é só marketing para governos populistas. Temos ainda analfabetismo funcional, desemprego e carência de empatia.
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Muito ouviremos sobre “herança maldita”, “fim do obscurantismo” e novas promessas de não gastanças. Essa será nossa rotina nada original.
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