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GAZ – Notícias de Santa Cruz do Sul e Região

Rumo a Ítaca

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Já que a Páscoa é, também, tempo de reflexão, vou dedicar a coluna deste fim de semana a algumas ponderações sobre as quais tenho meditado bastante nos últimos tempos. Que a Páscoa é um período de buscar uma vida nova, mais pacífica, altruísta e caridosa, creio eu, todo mundo já sabe. Colocar isso em prática, claro, é que é o mais difícil. Principalmente em meio a tantas atribulações que nos perseguem dia após dia, em um mundo onde as aparentes praticidades de certas tecnologias, mais do que facilitar nossa vida, mascaram adversidades.

Sim, a vida do homo sapiens pode ter melhorado um bocado desde as cavernas ou do obscurantismo medieval, mas ainda estamos longe de nos livrar de variadas doses de angústias e tormentos. Entre as provas mais cabais disso estão a pandemia, a miséria, a guerra na Ucrânia e seus reflexos, eventos que seriam impensáveis em pleno século 21. Ainda assim, somos seres que, espiritual e biologicamente, buscamos a tranquilidade e a felicidade. Mas como conquistá-las, se acontecimentos como os citados acima mostram que – diferentemente do que dizem muitos gurus modernos – a paz, a alegria e a pujança não dependem exclusivamente de nossa força de vontade?

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Nos versos épicos de Homero, Ítaca é a terra de Odisseu, o idealizador do ardiloso Cavalo de Troia. Sim, Odisseu era, em certa medida, um camarada bastante matreiro. Contudo, tinha uma virtude inspiradora: a persistência. E, uma vez tendo vencido os troianos, Odisseu embarcou no navio e virou a proa em direção a Ítaca, ansioso por reencontrar sua amada Penélope e o filho, Telêmaco. Mas a volta para casa acabou se transformando em uma daquelas viagens em que tudo dá errado.

No caminho, tempestades mudaram o curso do navio, ciclopes devoraram parte da tripulação, gigantes tentaram afundar o barco a pedradas. Não parou por aí. Também foi preciso superar feitiços, vencer o canto das sereias, enfrentar redemoinhos e monstros marinhos. Odisseu teve problemas até mesmo com Zeus: o chefão dos deuses afundou-lhe o navio, deixando o herói à deriva por vários dias, segurando-se aos destroços.

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Kaváfis, a seu turno, deseja-nos uma odisseia bem maior, um longo caminho a ser percorrido sem pressa. Sugere que, em meio às aventuras, desafios e tormentos, desfrutemos do que a viagem nos oferece, afinal, o que conta é justamente o percurso, não tanto o destino.

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O poeta também avisa que não há risco de toparmos com os terríveis ciclopes, a menos que os levemos em nossa própria alma. Eis aqui uma metáfora um tanto quanto desafiadora, mas que, talvez, sugira que os nossos problemas adquirem o tamanho que nós mesmos atribuímos a eles. Afinal, nossos sentimentos ruins, nossas angústias e ansiedades também criam monstros assustadores.

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Particularmente, ainda me pergunto o que é Ítaca na metáfora da poesia de Kaváfis. Talvez seja a velhice, com a qual vem a sabedoria acumulada ao longo da vida. Talvez seja simplesmente a morte – o derradeiro fim da jornada. Creio que um dia descobrirei. Mas, para isso, não tenho nenhuma pressa.

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