Duas mil sementes foram selecionadas. Destas, 500 vão para o Cofre do Apocalipse, na Noruega, que é o maior já construído
Criado em 2008, o Svalbard Global Seed Vault, também conhecido como Doomsday Vault – ou Cofre do Apocalipse em tradução literal –, é considerado um dos mais famosos espaços voltados à preservação da história da civilização humana em caso de um colapso, como catástrofes climáticas ou guerras nucleares. Localizado na Noruega, o banco em breve vai contar com sementes crioulas cultivadas por moradores de Ibarama, na região Centro-Serra.
No município, um coletivo de 40 produtores dedica-se à preservação de sementes que não passaram por modificações genéticas. Entre os integrantes do grupo estão os agricultores Mário e Renilde Raminelli. Os dois contam com o acompanhamento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), por meio dos pesquisadores Irajá Antunes e Rosa Lia Barbiere, da Embrapa Clima Temperado, de Pelotas.
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Conforme Raminelli, a seleção para fazer parte de um projeto global que visa a conservação da vida no planeta é um reconhecimento ao trabalho feito em Ibarama. “É uma animação para todo o nosso grupo, que trabalha com a preservação. É uma grande vitória, uma conquista”, disse, orgulhoso. Ele salientou ainda o aspecto de que quem tem semente crioula, tem autonomia. “É o dono de sua semente. Não tem um grande custo de produção. Elas são mais resistentes a secas e intempéries”, afirma.
Ao todo, 2 mil sementes foram selecionadas. Destas, 500 vão para o cofre da Noruega e outras 500 ficarão no banco da Embrapa, em Brasília. As demais mil unidades serão utilizadas em testes de germinação, para comprovar a qualidade das amostras e atestar que elas irão germinar se forem semeadas.
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“É todo tipo de sementes, não só de milho, feijão e trigo. A gente tem uma grande diversidade – pimentas, alface, pepino, tomate, tudo que você imagina de sementes, preservamos e guardamos. Em dias de troca, vamos aumentando a quantidade de sementes que os guardiões têm”, explicou Mário Raminelli em entrevista ao programa Radar, da Rádio Gazeta 107,9 FM.
Embora esteja situado a milhares de quilômetros da região, o Cofre do Fim do Mundo, como também é chamado, tem uma grande importância para a preservação das espécies. É o que aponta a doutora em Geografia Virginia Etges, pesquisadora e docente da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc).
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Segundo ela, diante das transformações que vêm ocorrendo no mundo, proteger a vida biológica por meio do armazenamento de sementes é fundamental. Destaca que o planeta passa por alterações em virtude do clima, e elas irão modificar o modo como o ser humano sobrevive e se relaciona com a natureza.
“Todas as formas de vida – vegetais, animais, a vida humana – estão em um processo de formação muito acelerado. E as mudanças climáticas contribuem para isso. Resgatar e manter sementes crioulas pode ser, e certamente será, altamente estratégico nesse processo de avanço da crise climática, de desaparecimento das espécies e modificação genética das plantas”, alerta Virginia, que também é integrante do Grupo de Pesquisa em Geografia Agrária da Universidade de São Paulo (USP).
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Mestre em Ambiente e Sustentabilidade pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), Diego Limberger acrescenta que o feito dos produtores de Ibarama tem grande importância científica. Explica que as sementes originais, surgidas com o início da atividade agrícola, podem sofrer interferência das espécies híbridas, que têm melhoramentos genéticos.
“Por vários efeitos climáticos e doenças – especialmente em plantas como o milho, que se reproduz pela polinização, pelo vento ou por insetos – é grande a possibilidade de perdermos as características de cada cultivar. Com o avanço de cultivares híbridas ou transgênicas, elas podem contaminar esses materiais crioulos e perdermos a capacidade produtiva.” Além da Embrapa, o trabalho realizado pelos Guardiões das Sementes Crioulas tem o apoio da Emater/RS – Ascar.
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Apesar de não ser o único no planeta, o banco de sementes do Arquipélago de Svalbard, na Noruega, é o maior já construído. O projeto foi financiado pelo governo da Noruega; pela Cop Trust – organização internacional sem fins lucrativos que preserva culturas a fim de proteger a segurança alimentar global – e pela Fundação Bill & Melinda Gates, criada por Bill Gates.
Ele está encravado em uma montanha em uma região congelada na ilha de Spitsbergen, próximo à Groenlândia. Representa uma tentativa de garantir a biodiversidade das culturas em caso de algum acontecimento global extraordinário, como guerras ou eventos climáticos capazes de impedir a produção de alimentos. Mais de 1,2 milhão de sementes, de praticamente todos os países, são armazenadas no local.
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