Centro Regional de Cultura recebeu cerca de cem pessoas. Mesa inaugural foi dedicada à literatura negra e à literatura indígena
O prédio histórico do Centro Regional de Cultura Rio Pardo se tornou palco, na última sexta-feira, 28, de um evento que reuniu literatura, memória e identidade. No 1o Seminário Literatura e (seus) Temas Contemporâneos, promovido pela Academia Rio-grandense de Letras (ARL) e pelo Fórum das Academias, cerca de cem pessoas – entre escritores, professores, pesquisadores e agentes culturais – ocuparam a Cidade Histórica. Eles discutiram temas que atravessam a formação do território gaúcho e dialogam com desafios sociais, sobretudo na literatura.
O presidente da ARL, Airton Ortiz, refletiu sobre esses atravessamentos e a função pública da literatura. “Ouvi uma frase hoje, aqui, dizendo que a literatura precisa das pessoas. É o contrário. As pessoas é que precisam da literatura.” Ortiz, que é rio-pardense, destacou a alegria de promover o evento em sua cidade natal e lembrou que a literatura amplia horizontes e rompe bolhas individuais. “A vida humana é extremamente complexa e a literatura é que nos abre esse horizonte. Então, esse seminário tem exatamente esse objetivo: permitir que as pessoas acessem um conhecimento mais amplo.”
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Para Marli Silveira, escritora, filósofa e presidente da Academia de Letras de Santa Cruz do Sul, o encontro serviu para levar à agenda das academias de letras temas que costumam ficar à margem das tradições institucionais. “Literatura negra, literatura indígena, literatura das mulheres, a questão do meio ambiente, a questão dos direitos autorais em tempos de automação, de IA, são temáticas que atravessam o fazer literário. E a academia não pode se furtar dessas discussões”, afirmou.
A urgência de trabalhar esses temas ecoou na mesa inaugural, dedicada à literatura negra e à literatura indígena, e que trouxe relatos pessoais e reflexões sobre resistência. Antônio Carlos Côrtes contou sua trajetória de superação. Nascido na Colônia Africana, antigo território negro da cidade de Porto Alegre, formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Lá, era o único negro e sofreu bullying, mas superou as adversidades por meio do estudo.
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Ele recordou certa vez em que um professor lhe fez uma provocação, sugerindo que a Lei Áurea teria apenas dois artigos e nenhuma justificativa para milhões de negros. O fato levou Côrtes a buscar, na literatura, respostas e memória. “Aquilo me motivou a ir na busca do livro do Edison Carneiro, O Quilombo dos Palmares, na Biblioteca Pública do Estado. Um detalhe: era um livro censurado”, relatou. A fala de Côrtes lembrou à plateia a capacidade da literatura de preencher lacunas e construir abrigo para histórias marginalizadas.
Também chamou a atenção a participação do professor da Ufrgs Gerônimo Franco, que trouxe a voz da aldeia para o auditório. Ele ressaltou que muitas práticas e saberes indígenas só podem ser vividos plenamente no território de origem e que a escola indígena precisa de apoio para preservar essa vivência. “Para conhecer a minha vida, você precisa ir primeiro para ver a realidade”, disse, reforçando a necessidade do respeito aos direitos e às formas de celebração cultural dos povos originários. Ao longo do dia, as mesas refletiram esse entrelaçamento entre literatura, memória coletiva e questões socioambientais.
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